Dalton Trevisan, que morreu ontem (9) em Curitiba aos 99 anos, nunca escreveu para teatro. Aliás, Dalton relutou muito até que sua literatura fosse adaptada em dramaturgias. Tanto que a primeira concessão foi só em 1990, quando o escritor já tinha 65 anos e mais de 40 de carreira literária.
Como bem explicou a jornalista Helena Carnieri, em matéria publicada na Gazeta do Povo, Dalton não era adepto da “teoria da morte do autor”, ou seja, para autorizar montagens de seus textos não permitia que alterassem em nada o texto original. “Demorou para sair peça com a obra dele porque ele é muito perfeccionista, não pode mudar uma vírgula”, disse a ela o diretor João Luiz Fiani.
+ Leia Mais + Dalton Trevisan não cabe em apenas um século
Fiani atuou como ator nas duas primeiras montagens dirigidas pelo então diretor do Teatro Paranaense de Comédia (TCP) Ademar Guerra, no início dos anos 1990. Depois, Fiani tornou-se o diretor que mais vezes levou os textos de Dalton ao teatro em quatro espetáculos.
Como ele, todos os diretores que montaram textos de Dalton viviam ou viveram em Curitiba em algum tempo e negociaram pessoalmente com Dalton as licenças das adaptações.
Veja abaixo a lista das peças que se basearam na ficção do maior contista da língua portuguesa:
Mistérios de Curitiba, 1990, direção de Ademar Guerra
O diretor paulista Ademar Guerra levou pela primeira vez os contos de Dalton Trevisan ao palco com 25 atores em cena numa montagem que marcou uma virada de chave na história da Companhia Teatro de Comédia do Paraná (TCP).
O Vampiro e a Polaquinha, 1992, direção de Ademar Guerra
Um dos maiores sucessos da história do teatro paranaense, ficou seis anos em cartaz. A peça, que foi encenada também em São Paulo, no Sesi da Avenida Paulista, marcou a estreia da atriz Guta Stresser nos palcos.
O Ventre do Minotauro, 1998, direção de Marcelo Marchioro
Em 1998, o ator Mário Schoemberger (1952-2008) atuou no monólogo “O Ventre do Minotauro”, com direção de Marcelo Marchioro. O espetáculo virou nome de sanduíche no Café do Teatro e a performance de Schoemberger está disponível em vídeo no YouTube, numa produção do programa CicloJam.
Pico na Veia, 2005, direção de Marcelo Marchioro
Nena Inoue, então diretora do Teatro Guaíra na época, conta que Dalton foi assistir ao ensaio geral da peça e se sentou sozinho na plateia do Guairão. Ela conta que no final do ensaio, Dalton virou-se para ela e disse: “Se eu não fosse o autor, aplaudiria de pé”.
Educação Sentimental do Vampiro, 2006, direção de Felipe Hirsch
No ano seguinte, a Sutil Companhia de Teatro adaptou 18 contos de Dalton com direção de Felipe Hirsch. Foi a primeira vez que uma peça de Dalton estreou em São Paulo. O elenco tinha, entre outros nomes, Erica Migon e Guilherme Weber e um dos destaques era a cenografia de Daniela Thomas usando linóleo-gravuras do artista plástico Raul Cruz.
O Vampiro Contra Curitiba, 2006, direção de João Luís Fiani
Primeira das quatro adaptações de Dalton feitas por João Luiz Fiani. “Escrevi uma carta para o Dalton explicando a concepção completa da peça. Era quase um dossiê. Ele me respondeu com outra carta, já assinando a autorização, e foi assim que tudo começou”, disse o diretor à revista Piauí.
Macho Não Ganha Flor, 2008, direção de João Luís Fiani
Monólogo com Marino Jr. em cima de contos retirados do livro homônimo e de alguns contos ainda inéditos na época, especialmente selecionados por Dalton para o espetáculo.
Virgem Louca, Loucos Beijos, 2009
Quase uma ópera-rock só com os contos mais apocalípticos de Dalton, como o Lamento de Curitiba, que fala do juízo final na cidade de Dalton Trevisan com o rio Barigui ficando “mais vermelho que o Eufrates”. O elenco tinha Marino Jr., Claudinho Castro e Joel Vieira, entre outros.
Receita de Curitibana, 2014, direção de João Luís Fiani
A montagem era dividida em 15 cenas, cada uma adaptando um conto diferente, povoadas por ninfetas dissimuladas, professores tarados e mulheres adúlteras. As cenas eram intercaladas pelos versos do poema “Cantares de Sulamita” com Marino Jr. e Ingrid Bozza no elenco.
Paranã, 2015, direção de Nena Inoue
O espetáculo do grupo Espaço Cênico no Teatro Novelas Curitibanas usava textos não só de Dalton, mas também de Wilson Bueno e Domingos Pellegrini. Os contos Dois Velhinhos, Ipês e O Grande Circo de Cavalinhos foram os escolhidos por Dalton.
Dalton Cabaré, 2016, direção de Nena Inoue
Parte da Curitiba Mostra, o espetáculo Dalton Cabaré fez parte da programação do 25º Festival de Teatro de Curitiba. No elenco, Cássia Damasceno, Kauê Persona, Leonarda Glück e Pedro Inoue. Beto Bruel assinou a iluminação e os figurinos foram de Amabilis de Jesus.
Daqui Ninguém Sai, 2025, direção de Nena Inoue
A primeira peça anunciada para a grade do Festival de Curitiba de 2025 tem direção de Nena Inoue para o Teatro de Comédia do Paraná e dramaturgia dela e de Henrique Fontes. A obra foca na produção mais recente de Dalton. O nome da peça foi escolhido pelo autor.
+ Leia Mais + Daqui Ninguém Sai é a primeira peça do Festival de Curitiba
A Nena! Um bebê!