Acho que todos concordamos que anda faltando poesia em nossas vidas e no mundo, mas não podemos culpar o escritor Ivan Justen Santana nem o acusar de não estar fazendo a sua parte.

Poeta em tempo integral, além de escritor, pesquisador e tradutor (e colaborador eventual do Fringe), Ivan acaba de lançar Terceiros Episódios (Anticítera), seu terceiro livro “solo” de poesias.

Mesmo que, no volume de capa amarela, haja alguns textos em parceria — modo mais curitibano de fazer versos —, em suas 83 páginas, o livro é “poesia de Ivan Justen Santana” envelhecida em tonéis de carvalho por doze anos.

O poeta radiante: júbilo, lirismo e números mágicos. Foto: Adriana Sydor

Por conta de sua estrutura editorial fragmentada e inventiva, do humor peculiar, iconoclasta e autodepreciativo e, como bem apontou a resenha do site Querela, do “lirismo ácido e reflexivo”.

Leia um poema do livro Terceiros Episódios:

É PRA HOJE

hoje eu quero

acertar na veia

hoje vou

tirar a alma

da lama

falar baixo

a quem me odeia

e calar fundo

em quem

me ama

Momento de júbilo

Sempre envolvido em projetos poéticos diversos e ousados, Ivan conta que este livro o alcançou em uma esquina da vida em que ele dispõe de “experiência e capacidade pra subir no poste e observar tudo com calma: percurso (meio errático) já trilhado e trajetos futuros possíveis”.

“Sem querer ser mais pretensioso do que já sou: é um momento de júbilo. Completei 52 anos (a idade de Shakespeare, um “número mágico”: 13 vezes 4) e lancei o livro no dia do meu aniversário”, disse.

Quando perguntado se o nome do livro remete ao axioma da indústria cultural, de que são os terceiros trabalhos os que validam a obra pregressa e futura, Ivan admite que este foi um dos cálculos que fez e uma das mensagens que quis passar.

“Se o terceiro episódio de uma série de TV se sustenta e mantém o nível, assistimos ela inteira, não? Terceiras temporadas e terceiros álbuns de bandas também são essa espécie de prova dos nove”, disse.

Mas há outras. No texto de apresentação do próprio poeta, há três “Ivans” que se olham no espelho dizem que há mais “epis” do que ódios no livro.

“Passei por umas fases graves de revolta e ódio no coração. Por minha insuficiência em lidar com problemas pessoais. Que geralmente são causados por nós mesmos, mas a gente teima em culpar os outros. E há que se apontar também o peso do contexto distópico, e os problemas coletivos que temos experimentado”, explicou.

Segundo ele, os “epis” remetem ao ponto de vista “superior” que crê ter atingido em Terceiros Episódios. “Isso é imodéstia da minha parte, mas tenham a bondade de admitir que quando se vê tanta estupidez sendo glorificada, é muito difícil não se sentir um pouco superior, detendo um mínimo de inteligência e discernimento, que vêm com estudos e experiências de vida”.

Como ler a poesia de “Terceiros Episódios”

O escritor Nego Bispo dizia que é importante ler poesia em voz alta todas as manhãs, não interessa se boa ou ruim. Eu sou adepto da prática, mas há muitas maneiras de usar e encarar um livro repleto de poemas.

Na orelha de Terceiros Episódios, o também poeta Antonio Thadeu Wojciechowski, provoca: “Eis o poeta, a obra e você diante dela. E Agora? Você cai dentro ou cai fora?

Dentro, claro, é a resposta. Mas como? Ivan não arrisca um tutorial para encarar seu livro, mas reconhece alguns caminhos possíveis.

“Já me disseram que o livro é forte para bibliomancia (abrir ao acaso e usar como oráculo, tendo antes pensado nalguma pergunta). Novamente tentando descontar a pretensão: o livro foi pensado para que cada peça-poema funcione por si. Mas elas rebatem umas nas outras, e deve haver alguma lógica nas sequências das seis seções, caso tentem encontrar isso”.

Certamente tem, ainda que três livros já lançados por Ivan Justen Santana em momentos tão diferentes sejam apenas uma parte apenas da sua produção poética e literária.

Ele escreve muito na internet há muitos anos. Antes em blogs e hoje nas próprias redes sociais, tem um trabalho acadêmico vasto e muitos outros trabalhos dentro do mundo mágico da palavra. Para Ivan, o melhor de escrever nas redes é a “interatividade imediata” que o meio digital permite:

“Se antes eu blogava, e havia a caixa de comentários aberta, atualmente eu posto um poema em rede social, e quase imediatamente já vejo quem está ‘curtindo’, vão aparecendo comentários. E eu posso editar o texto poético com facilidade.”

Contudo, ele pondera, escrever de graça nas @ das big techs não torna a publicação em livro obsoleta. Ao contrário: mesmo em face de todas essas vantagens, o livro mantém seu poder e sua magia, como ‘objeto transcendente’. Pois eu não vejo definição melhor para este Terceiros Episódios.

O livro “Terceiros Episódios” está à venda no site da Editora Antcitera e nas melhores livrarias.  

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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Fringe é uma plataforma de comunicação e entretenimento sobre arte e cultura brasileiras criada dentro do Festival de Curitiba e conta com o patrocínio da Petrobras

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