Por essa, imagino que nem Jorge Aragão imaginava, quando começou a sambar no bloco Cacique de Ramos: um dia sua música seria lançada ao espaço.

Entretanto, “Coisinha do Pai” (1979), parceria dele com Almir Guineto e Luiz Carlos, foi usada para acordar um robô em Marte, na voz de Beth Carvalho.

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Mas, pensando bem, o vácuo do espaço sideral não é o foro apropriado para apreciar a música do “poeta do samba”.

Ela fica melhor aqui na Terra, pois precisa de um planeta só dela, com um mundo inteiro de bambas para entoá-la como um hino.

Em uma carreira que já dura 50 anos, Aragão é um dos bambas do mais brasileiro dos gêneros e quem trouxe à luz muitas outras brasas essenciais do ritmo.

Plateia lotada vibrou com clássicos como “Vou Festejar” e “Malandro” na noite gratuita em Curitiba. Foto: Judy Anverce

O artista carioca soube como ninguém usar as ondas sonoras disponíveis aqui na Terra, onde nossos pés podem pisar e sambar, graças à gravidade que um dia vai nos comer.

E aqui na Terra, como numa Marte imaginária, em qualquer outro planeta deste ou de outro sistema solar, não tem quem bata Jorge Aragão quando ele fala de amor ou carnaval.

Assim como ainda não nasceu nenhum terráqueo ou E.T. que consiga ficar parado quando Jorge toca Malandro, Coisa de Pele, Já É, Tendência e Vou Festejar, só para citar alguns de seus sambas.

E mesmo que aí na sua galáxia ninguém domine as simbologias das letras, as cadências dos cavaquinhos, a harmonia dos violões e a batucada dos tantãs e tamborins, você também não vai ficar parado.

O poeta do samba, Jorge Aragão, é o capitão da nave-mãe e te leva em viagem ao melhor dos mundos com seu ritmo, voz grave, talento e carisma.

O co-piloto

Nesta mistura de aula-show e abdução, Raphael Logam é o co-piloto, personagem essencial na espaçonave. É ele quem narra toda a trajetória da carreira de Jorge Aragão como num teatro.

Entre blocos de músicas, Raphael surge contando um pouco da história desses 50 anos, trazendo frescor e informação.

Mais ou menos como as interrupções da narrativa no samba de breque que derrubam a quarta parede para falar direto com o público.

A tripulação

Uma jornada desse tamanho exige uma tripulação treinada, experiente e competente. De primeiro escalão. Alguns dos melhores músicos possíveis:

  • Jerônimo Fernandes (direção musical e violão de 6 cordas)
  • Neném Chama (percussão)
  • Leozinho Balanço (percussão)
  • Junior Moraes (percussão eletrônica)
  • Daniel Aranha (cavaquinho)
  • Leandro Saramago (violão de 7 cordas)
  • Diego Delávega (bateria)
  • Vitor de Souza (banjo)

Um time elegante e talentoso ao extremo, capaz de deixar a viagem leve, mas cheia de nuances.

A nave que voa

Cinquenta anos não são cinquenta dias e, assim, grande espaço da viagem é dedicado às memórias deste tempo.
Logo na entrada do espetáculo há uma exposição sobre a carreira do músico, um aperitivo sobre o universo Jorge Aragão, que prepara os navegantes do Apollo do samba.

A passagem é grátis!

Toda essa viagem é gratuita.

Em Curitiba, retiramos nossos ingressos gratuitamente no site do artista e ainda houve convites a muitas organizações sociais.

Por isso, na plateia havia muita gente que, aparentemente, não tem o hábito de frequentar teatros por conta dos preços.

E por isso a plateia estava bonita e vibrante como poucas vezes já se viu.

Teresina e Brasília são os próximos destinos dessa jornada incrível!

Atenção, humanos e extraterrestres: não percam!

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Jornalista, DJ e especialista em música brasileira

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