Por Caio Marques, especial para o Fringe

A primeira vez que ouvi 3 Feet High and Rising foi na casa de meu amigo Marcio Simões, em Pinhais, aos 17 anos. Rap e hip hop sempre estiveram no meu radar de interesses musicais, mas aquilo era diferente: dançante, esquisito, engraçado, cheio de recortes, quebras e ruídos.

O rap finalmente tomava um caminho experimental que não havia sido trilhado antes, misturando samples de Jazz e funk aos improváveis Steely Dan, Johnny Cash, Bill Cosby, Steve Miller Band, só para citar alguns, são dezenas. As batidas “não quantizadas” subvertiam a experiência rítmica, cortando os loops sem necessariamente respeitar a sincronia exata dos compassos.

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Os vocais e letras seguiam a quebra, com temas pouco usuais no estilo, como a crítica ao individualismo, amor, paz e comida. O trio Posdnuos, Mase, Trugoy e o DJ e produtor Prince Paul fizeram história e escola, abriram caminho para toda uma geração que desenvolveu o Jazz Rap, o Rap Underground e o Rap Alternativo nas décadas seguintes.

Três é um número mágico, e desde que fui conquistado nesse primeiro contato tive a sorte de assistir a três concertos do De La Soul e mais duas participações em shows do Gorillaz. Mas esse último, no Canto das Pedras, um bem pensado espaço para shows de médio porte na Pedreira Paulo Leminski, foi o mais legal.

A noite chuvosa começou a esquentar com o curitibano Dow Raiz em uma excelente performance que embalou um público cativo e surpreendeu quem não o conhecia. Muita gente cantando seus raps, reggaes e dubs, acompanhado pela ótima Dj Mitay e marcantes participações do flautista Chico Han e do MC Thestro.

Mas foi quando Mase assumiu as pickups e soltou o beat com o sample célebre de Peg, do Steely Dan (I Know I Love you Baby…) que o bicho pegou. Posdnuos entrou improvisando e interagindo alegremente com crianças da platéia, a partir daí a dupla emendou uma sequência matadora que fez a energia do público escalar progressivamente: Change in Speak, Eye Know, Say no Go, Potholes in my Soul, Oooh.

O público já estava dominado pelo carisma da dupla, todo mundo dançando, mas aos poucos a ausência da terceira parte, Dave Trugoy, falecido em 2023, começava a ser sentida.

Contudo, a noite ainda reservava uma bela surpresa, e o convidado que teria a difícil missão de compensar essa ausência era ninguém menos que Talib Kweli, um dos pilares do Rap Underground e fundador da histórica Black Star, ao lado de Mos Def.  Juntos fizeram um set que incluiu faixas de um dos álbuns mais legais da banda, o pouco lembrado Stakes is High, de 1996, e um par de raps do próprio Talib.

Na reta final, o agora reestabelecido trio emendou mais uma sequência incrível, que contou com improvisos freestyle, faixas obscuras, belas homenagens a Dave Trugoy e os sucessos incontornáveis Ring Ring Ring (Ha ha hey), A Roller Skate Jam Named “Saturdays”, Me Myself and I e, claro, The Magic Number.

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