Como no célebre conto de Edgar Allen Poe, com vigor e auxílio de sua colher, o trabalhador se ocupa de emparedar a antiga janela do imóvel nº 670 da rua Saldanha Marinho, no centro de Curitiba.

Desde hoje (14), o lugar não mais existe. Apenas a fachada verde claro com seus detalhes em grená resiste, sabe-se lá até quando.

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Todo o resto do imóvel do antigo Kapelle Bar já foi pro chão. Onde antes era a treva de boemias ancestrais, uma luz chôca e bruma de poeira grossa.

A morte de um bar são como as pedras de um moinho que moem e roem. Como a saudade de um irmão baleado em outra cidade. Cada tabua quando cai, dó no coração.

Não se pode fazer nada e nem haveria o que fazer.

Mas preciso confessar que, ao me aproximar, apurei os ouvidos e tal como no conto de Poe, tive a impressão de ter ouvido berros fortes e agudos.

Fantasiei que provindos da garganta do vulto acorrentado da sereia de madeira que ficava presa ao teto.

Mas não era. A sereia está na casa de um amigo há semanas. Era só o barulho do lava jato do lado. Ninguém vai gastar um sussurro ou vela a mais para o Kapelle.

Desperto do transe e vejo o pedreiro empurrar a última pedra em sua posição. Argamasseou-a  e… já era. In pace requiescat!

Em breve mais predinho para o pessoal “investir” no centro revitalizado.

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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