O Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, inaugurou na semana passada a exposição “A alma humana, você e o universo de Jung”, um projeto que convida o público a percorrer a psique humana por meio de instalações simbólicas inspiradas na obra de Carl Gustav Jung, que completaria 150 anos em 2025.

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A mostra surge em um contexto urgente: segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com maior proporção de pessoas ansiosas do mundo — 9,3% da população — e ocupa o segundo lugar nas Américas em prevalência de depressão. Em diálogo com esse cenário, o MIS apresenta uma exposição que une arte, pedagogia e reflexão para fomentar o autoconhecimento como ferramenta de saúde mental.

Percurso pela psique

Fotos: divulgação MIS/SP

Distribuída pelos 550 m² do primeiro andar do MIS, a exposição é organizada em três dimensões:
pedagógica, com explicações acessíveis sobre os principais conceitos junguianos;
sensorial, por meio de instalações artísticas imersivas;
e provocativa, com perguntas que estimulam introspecção e autoconhecimento.

O visitante inicia o percurso pelos sintomas, entendidos por Jung como manifestações do inconsciente. A partir daí, passa por salas dedicadas ao inconsciente, aos arquétipos e às imagens arquetípicas — representadas em obra de Moara Tupinambá — e pelos mitos, apresentados em cinco culturas diferentes em peça criada por Tania Sassioto e Daniela Euzébio.

Outros conceitos fundamentais surgem em instalações especialmente desenvolvidas para o projeto:

  • Anima e Animus, em videoarte criada por Flavio Vieira com uso de Inteligência Artificial;
  • Persona, representada por 1.260 máscaras de gesso produzidas voluntariamente por estudantes do IJEP;
  • Ego, em representação irreverente;
  • Expressões simbólicas, com o diálogo entre Jung e Nise da Silveira;
  • e a ferramenta da Associação de Palavras, agora em versão simbólica e interativa.

A mostra inclui ainda uma instalação dedicada aos sonhos, com reflexões de Sueli Carneiro, Ailton Krenak e outros pensadores. O corredor da Alquimia apresenta a obra “Decantador de sonhos”, de Mariana Guardani, além de ilustrações do Rosarium Philosophorum recriadas por Isabela Amado.

A trajetória de Jung é retomada em uma inédita Sonhografia, que apresenta cinco de seus sonhos e seus significados, organizada pelo analista junguiano José Balestrini. Há ainda salas sobre Sincronicidade e sobre o Livro Vermelho, com obras do artista carnavalesco Victor Passos.

Jung e o mundo

A exposição destaca o olhar multicultural do psiquiatra suíço, que visitou mais de 15 países em busca da diversidade da alma humana. Crítico da hegemonia europeia já no início do século 20, Jung acreditava que o inconsciente coletivo se formava a partir de múltiplas tradições — visão que fundamenta o caráter plural e intercultural da mostra.

Apesar de laureado por instituições como Harvard, Oxford e a Sociedade Real de Medicina, Jung ainda é taxado como místico por sua disposição em dialogar com o que a ciência não explica. A exposição do MIS, porém, destaca justamente essa capacidade de síntese entre razão, simbolismo e experiência humana.

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