Da Agência Estadual de Notícias
A noite desta segunda-feira (1º) foi de celebração no Auditório Salvador de Ferrante (Guairinha), em Curitiba, durante a cerimônia da 41ª edição do Troféu Gralha Azul. A premiação, que comemora meio século de história, consagrou a diversidade e a descentralização da cena teatral paranaense, premiando espetáculos e profissionais da Capital e de outros municípios do Paraná.
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Foram 63 espetáculos inscritos e 34 homologados e avaliados. Ao todo, a premiação contemplou 17 categorias, entre elas melhor Espetáculo, Direção, Atriz, Ator, Dramaturgia e Revelação, além das indicações especiais feitas pelo Centro Cultural Teatro Guaíra, com apoio do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Paraná (Sated/PR) e do Sindicato dos Empresários e Produtores em Espetáculos de Diversões no Estado do Paraná (Seped/PR).
“São 50 anos de trajetória deste prêmio, uma verdadeira celebração do talento dos artistas paranaenses”, disse Cleverson Cavalheiro, diretor presidente do Centro Cultural Teatro Guaíra.

“O Medo da Morte das Coisas”, da Companhia Súbita de Teatro, levou o prêmio de Melhor Espetáculo. A atriz Maíra Lour que escreveu e atua neste espetáculo recebeu também o troféu de Melhor Direção com “Deriva”. Emocionada, ela dedicou as conquistas à sua mãe, a atriz Fátima Ortiz, sua “grande mestra”, e à memória de seu pai, o ator Enéas Lour, morto em 2024.
“Estou muito feliz. Os prêmios no teatro são sempre reconhecimentos coletivos, de muito trabalho de muitas pessoas juntas para criar e me sinto muito honrada”, disse Maíra. “Meu prêmio do espetáculo ‘Deriva’ engloba muitas pessoas talentosas numa cena contemporânea, e esse prêmio do espetáculo ‘O Medo da Morte das Coisas’ é um prêmio muito importante que dedico ao meu pai, por ter escrito e ter atuado, é um espetáculo muito potente e muito forte”.
A atriz Cleo Cavalcante foi também uma das vencedoras da noite e levou três estatuetas com “Historieta”, da companhia da qual faz parte, a Tato Criação Cênica. Cleo levou o prêmio da categoria Melhor Atriz em espetáculo para crianças e, juntamente com a sua companhia, garantiu o prêmio de melhor espetáculo para crianças e de melhor figurino, recebido por Danilo Furlan.
Ela destacou a importância da diversidade e fez um discurso potente e emocionado, homenageando a trajetória de Odelair Rodrigues, pioneira e uma das gigantes do teatro paranaense. “Foi uma surpresa, porque recebemos tantas indicações na primeira vez que a gente se inscreve. Para mim ser indicada já era um prêmio, e estou voltando para casa com três passarinhos”, afirmou.
“Isso é um reconhecimento de toda uma trajetória, a gente fica muito feliz. Odelair amava tanto o teatro, não consigo nem imaginar receber este prêmio sem homenageá-la. Todas nós merecemos estar onde a gente sonha estar e eu sinto a presença de Odelair comigo, ela que nos abriu tantos caminhos”, disse.
O ator Adriano Gouvella, que faz parte da companhia Os Palhaços de Rua da Cidade de Londrina, conquistou dois prêmios com o espetáculo “Réquiem para um barbeiro”, como Melhor Ator e de Dramaturgia. Ele destacou a importância da nova formatação do prêmio, que neste ano levou a comissão julgadora a diversas cidades do Paraná.
“É uma história que eu passei e transformei em arte, é um espetáculo solo mas feito por muitas mãos e dedico esse prêmio às pessoas que estiveram comigo. É muitíssimo importante para gente o Gralha Azul ter essa descentralização. Quero agradecer a todas as pessoas que fizeram possível essa conquista”, comemorou.
HOMENAGENS
Além das premiações por categorias escolhidas pelo júri, o Teatro Guaíra, em conjunto com a Comissão de Avaliação e o Sated/PR, também concedeu dois Prêmios Especiais destinados a reconhecer trajetórias de destaque. Em 2025, Gabriela Grigolom, multiartista, atriz, diretora teatral e lammer, recebeu o Prêmio Especial pela sua contribuição ao teatro surdo.

“Estou extremamente emocionada e agradecida como surda de estar aqui representando a minha comunidade. O Teatro Guaíra é centenário e importante e, quando era pequena, me apresentei aqui uma vez, ganhei vários aplausos e estou aqui novamente, com o sonho realizado de estar aqui como artista, me orgulhando e recebendo este prêmio, meu coração está repleto de alegria”, disse.
A outra profissional homenageada da noite foi Carol Vaccari, técnica de iluminação que recebeu o prêmio especial de Técnico do Ano. Carol ressaltou a importância da visibilidade para as mulheres em uma área técnica predominantemente masculina. “É significativo estar aqui representando outras mulheres. Ser uma mulher técnica, no Interior do Estado, estar aqui recebendo esse prêmio e essa homenagem, é uma honra e uma alegria muito grande”, disse.
Premiação e Critérios
O Troféu Gralha Azul foi criado em 1974 pelos artistas Edson D’Ávila, Delcy D’Ávila, Yara Sarmento e Waldir Manfredini, e foi o primeiro troféu oficial dedicado a homenagear artistas e técnicos do teatro no Paraná, tornando-se um marco de reconhecimento na arte cênica paranaense.
A premiação foi oficializada pela então Fundação Teatro Guaíra em 1983 e se firmou como a mais tradicional e relevante premiação do teatro paranaense e símbolo de excelência, reconhecendo o talento, a diversidade e a força criativa que movem a produção teatral profissional do Paraná.
Neste ano, o prêmio Gralha Azul foi reformulado para atender as reivindicações da categoria que solicitou alterações no formato da premiação e critérios que garantissem a maior participação de grupos socialmente minorizados, incluindo mulheres, pessoas negras, indígenas, integrantes de comunidades tradicionais (como terreiro e quilombolas), pessoas com mais de 60 anos, populações nômades e povos ciganos, pessoas LGBTQIA+ e pessoas com deficiência.
Os critérios foram aplicados tanto para profissionais nas categorias individuais quanto para espetáculos com mais da metade da equipe composta por membros desses grupos. A comprovação foi feita por meio de autodeclaração, documento obrigatório no processo.

Além das ações afirmativas, o edital trouxe outras mudanças para ampliar o acesso. Com o objetivo de reduzir as dificuldades de participação de companhias de outros municípios do Paraná, os jurados, que foram selecionados por meio de um chamamento público específico, puderam analisar trabalhos apresentados fora de Curitiba e de sua Região Metropolitana.
O edital de 2025, tanto o do Prêmio Gralha Azul quanto o do credenciamento para a comissão julgadora, foram construídos através de conversas do Centro Cultural Teatro Guaíra com o Sindicato dos Artistas (Sated-PR), representantes da classe, políticos apoiadores da cultura e diversos agentes.
“Foram analisadas as mais diversas demandas, desde ações afirmativas até adequação do valor pago aos jurados. Os editais propostos foram disponibilizados em consulta pública para que todos pudessem participar e promover editais que atendessem democraticamente aos anseios da classe”, explicou Aldice Lopes, diretor artístico do Centro Cultural Teatro Guaíra.
Após todo o processo de consulta e adequação, os editais foram encaminhados à Procuradoria-Geral do Estado. “Foi uma construção coletiva e, pela primeira vez em 30 anos, o Centro Cultural Teatro Guaíra possibilitou que os jurados pudessem assistir aos espetáculos em outros municípios do Paraná para atender plenamente as diretrizes do edital”, disse.
Lista dos vencedores Gralha Azul 2025 – 41ª edição:
Ator:
Adriano Gouvella – “Réquiem para um Barbeiro”
Ator Coadjuvante:
Isac Kempe – “Cidade dos Jornais”
Ator espetáculo para crianças
Alexandre Faria – “A Vaca Lelé”
Atriz
Isabel Caldas (“Memórias de um Baobá”) e Renata Ortiz Bruel (“Cabaré Hai Kai”)
Atriz Coadjuvante
Jordana Dalla Vechia – “Ela Não Pode Gritar”
Atriz espetáculo de crianças
Cleo Cavalcante – “Historieta”
Caracterização
André Daniel – “Memória de um Baobá”
Cenário
Guenia Lemos – “Cabaré Hai Kai”
Direção
Maira Lour – “Deriva”
Direção de Espetáculo para Crianças
Cadu Cinelli – “Plumaje”
Dramaturgia
Adriano Gouvella – “Réquiem para um Barbeiro”
Espetáculo
“O Medo da Morte das Coisas” – Súbita companhia de teatro
Espetáculo para crianças
“Historieta” – Tato Criação Cênica
Figurino
Danilo Furlan – “Historieta”
Iluminação
Nathan Balaguer e Lucri Reggiani – “Pianinho”
Revelação
Jualiana Rosa – “Maria Navalha Vem Aí”
Sonoplastia
Arthur Jaime – “Sozinho com Romeu e Julieta”
PRÊMIOS ESPECIAIS
Prêmio Especial
Gabriela Grigolom
Prêmio Técnico do Ano
Carol Vaccari
