“Este lugar é uma joia. Tomara que seja preservado para sempre. Só lamento que não tive tempo de fazer um passeio ali fora.”

Com mais ou menos essas palavras, a cantora Mayra Andrade mostrou-se encantada com o ambiente da Ópera de Arame em Curitiba.

Foi nele que, na noite desta terça (2), ela fez seu primeiro show no sul do Brasil. “Venho ao Brasil desde os 18 e agora estou com 40 anos, mas nunca tinha vindo para cá. Que seja o primeiro de muitos”, disse.

Muito comunicativa, a estrela da música lusófona puxou altos papos com a plateia falando de sua vida e filosofias pessoais.

Nascida em Cuba, criada em Praia, capital de Cabo Verde, Mayra é uma globe-trotter que hoje mora em Portugal.

Por algum motivo não explicado, fala “brasileiro” com leve sotaque baiano e domina nossas gírias e prosódia.

Canta lindamente em crioulo cabo-verdiano, uma língua de sonoridade deslumbrante, que tem parentesco com a língua de Camões, mas não muito.

No show em formato voz e violão, ela cantou o repertório de reEncanto, seu álbum mais recente, gravado na Union Chapel (Londres) em 2023 e lançado no ano passado.

Acompanhada apenas pelo violão do patrício Djodje Almeida, ela cantou apenas canções de sua autoria com ou sem parceiros.

Assim, rechaçou sem amolecer os pedidos da plateia, com dezenas de compatriotas, para cantar alguns de seus sucessos de compositores tradicionais do país, que está em estado de graça, pois acaba de se classificar para sua primeira Copa do Mundo.

O show era cantar as criações dela e o componiado não saiu caro. Antes da canção Afeto, que ela explicou que era uma mensagem a seres extraterrestres para que poupassem a Terra dando-nos uma segunda chance, ela pediu a participação da plateia imitando os “animais endêmicos da região”.

Como se os ETs, ouvindo a verdadeira população local, pudessem se sensibilizar, a galera comprou a brincadeira e o que se ouviu foi um coral de curicacas, gralhas, jacupirangas, cães, gatos e graxains: gente grasnando e rosnando na Ópera de Arame no embalo do arranjo da canção.

Do palco montado como se fosse a sala de sua casa, com plantas e poltronas, ela disse que o bis seria curto, pois o público estava cansado.

Avisada que ontem era o Dia do Samba — ou pelo menos uma das datas em que se comemora a efeméride no Brasil, e é todo dia — ela resolveu cantar “Minha Missão”, o samba da trilogia de João Nogueira e Paulo César Pinheiro sobre composição musical.

Como não lembrava toda a letra, pediu para sua diretora de palco dar um print na letra e lhe passasse o celular, exatamente como fazemos às vezes em casa.

Com a diferença que Mayra Andrade canta melhor e com mais elegância do que qualquer pessoa que eu conheça.

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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