Entre os dias 19 a 21 de dezembro, o Centro Histórico de Curitiba recebe o Festival Versão Brasileira, evento que propõe questão urgente: devolver ao povo os símbolos nacionais sequestrados nos últimos anos pelo uso político, partidário e excludente.

Na conceito do Versão Brasileira, cores, bandeiras, hinos e pertencimentos voltam a circular como deveriam — elementos culturais múltiplos, afetivos e compartilhados.

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Assim, a curadoria, assinada por Alexandre Bras, parte da constatação de que grande parte dos brasileiros passou a hesitar diante do verde-amarelo. A bandeira virou cenário de palanque, a camisa da seleção se converteu em código ideológico, o hino tornou-se senha de fidelidade.

“Perdemos liberdade de celebrar nossos próprios símbolos”, afirma Bras. “O festival existe para devolver esses signos ao território do afeto, onde o patriotismo é o que se sente, não o que dizem que devemos sentir.”

O evento independente é financiado pelos próprios artistas e vai ter como base Love City, espaço cultural ao redor da praça 19 de dezembro.

A programação se divide em cinco eixos: economia criativa, música, grafite colaborativo, skate e intervenções performáticas. O eixo central, a feira criativa, reúne 27 artistas com obras que vão de cerâmicas e joias amazônicas a moda autoral e prints — objetos que materializam suas visões de Brasil, seus imaginários e pertencimentos regionais.

Versão Brasileira: contra o complexo de vira-lata. Foto: divulgação

Na música, mais de 20 horas de DJs ocupam o espaço com ritmos que formam o mosaico cultural do país fora do eixo comercial. Carimbó, soul, MPB, samba-rock, forró, vanerão, reggae e sertanejo raiz revelam um país possível, expansivo, miscigenado e impossível de ser resumido por categorias rígidas.

Os painéis de grafite seguem a mesma linha de abertura e colaboração. A pergunta “O que é o Brasil para você?” é respondida por centenas de pessoas em diálogo contínuo. Cada resposta lê e reconfigura a anterior. Ao final, a obra não pertence a ninguém — ou pertence a todos. É documento vivo de construção identitária coletiva.

O skate, quarto eixo, incorpora a linguagem urbana ao gesto de reconquista simbólica. A pista aberta recebe manobras, aula gratuita e premiação. É a cultura de rua como elemento legítimo da ideia de Brasil.

Completam o programa o Auto de Natal Brasileiro, que ressignifica códigos europeus a partir de matrizes nacionais, e a exibição comentada de Jorge Ben – Energia (1982), registro que reafirma do artista que é um dos principais intérpretes da vastidão estética e emocional do país.

Cada um carrega um Brasil particular. Foto: divulgação

A experiência do Versão Brasileira é, antes de tudo, uma restituição. “Cada pessoa carrega um Brasil particular”, resume Bras. “Quando essas versões se encontram, todas se transformam.” Sem vigilância ideológica, sem apropriação partidária e sem constrangimento de pertencimento, bandeiras e cores voltam a ser de quem sempre foram.

Festival Versão Brasileira

Quando: 19 a 21 de dezembro de 2025, das 12h às 01h
Onde: Love City – Centro Histórico, Curitiba/PR
Entrada: Gratuita

Programação:

  • Música: mais de 20 horas de DJs (forró, MPB, rap, soul, samba, carimbó, vanerão, sertanejo raiz)
  • Feira de Economia Criativa com 27 artistas (sábado e domingo)
  • Grafite colaborativo: “O que é o Brasil pra você?”
  • Skate: pista aberta, premiação e aula gratuita de mobilidade
  • Intervenções: Auto de Natal Brasileiro e exibição comentada do especial Jorge Ben – Energia (1982)
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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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Fringe é uma plataforma de comunicação e entretenimento sobre arte e cultura brasileiras criada dentro do Festival de Curitiba e conta com o patrocínio da Petrobras

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