A prazerosamente exagerada definição de “melhor de todos os tempos” costuma rondar os projetos de David Byrne. Em sua última turnê mundial, American Utopia muita gente boa, como o New Music Express, afirmaram que o show teria o melhor da história da música pop.
O mesmo predicado é usado há quatro décadas para definir Stop Making Sense, o filme que capturou para a eternidade três noites de shows do Talking Heads no Pantages Theater de Hollywood, em dezembro de 1983.
Dirigido por Jonathan Demme (de O Silêncio dos Inocentes), o filme é um marco na história dos filmes concerto e está nos cinemas brasileiros – pelo menos até quinta-feira (5) – em cópia restaurada em 4K para celebrar seu aniversário de 40 anos de lançamento.
Como se precisasse, o Fringe lista quatro rápidos motivos para ver essa obra-prima numa sala de cinema:
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O Talking Heads viu o futuro
Apesar de ser tratado como “O” filme-concerto, para o próprio diretor Joantahn Demme é um “filme performance”. A apresentação coreografada e cheia de groove do Talking Heads, misturando som e imagem freneticamente sem dar respiro ao espectador, antecipou em uma década a era dos videoclipes na MTV, que dava seus primeiros passos naqueles dias. Toda a intenção – luzes, cenografia, coreografia e figurinos – foi milimetricamente calculada.
De certa forma, em muitas décadas, o ethos de comunicação por vídeos que assolam as redes sociais atualmente. Como os craques do futebol, os grandes artistas anteveem as jogadas.
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Jonathan Demme acertou a mão
Um filme documento de um show de música que não mostra o público e nem entrevista ninguém. Uma direção que elimina os efeitos visuais e de iluminação para se concentrar na performance teatral da banda. A visão de Jonathan Demme fez a diferença no resultado filme segundo o próprio contratante, David Byrne: “Ele viu coisas no show que eu não sabia que existiam ou que não sabia o quanto eram importantes. […] Ele observou a interação das pessoas no palco, que funcionava como se todos tivessem a mesma importância em cena, se víssemos como um roteiro de cinema. Ele também percebeu que, para trazer o espectador para essa percepção, o filme não teria entrevistas ou imagens do público até quase o final”.
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A turma dos anos 70 em Nova York está ali
No século 20, poucos contextos de tempo e espaço foram mais influentes na história da arte do que o caldo cultural que se formou em Nova York na década de 1970. Na cidade decadente, com seus aluguéis baratos e com a ressaca da Guerra do Vietnã para curar, reuniu-se uma quantidade sem par de artistas criativos do cinema, das artes visuais e da música numa mesma cena.
Nela, os Talking Heads eram o destaque no sub-nicho da música pop conceitual. Mas estavam lá os Ramones, Television, Patti Smith, New York Dolls, Madonna, Basquiat, Sonic Youth, De Niro, Scorsese e os papas Lou Reed e Andy Warhol. O punk, a disco music e o hip-hop surgiram ali ao mesmo tempo, um pertinho do outro. Todos juntos e misturados. Este filme extraordinário resume um tanto do que foi esse momento.
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A sagrada captura de um auge criativo
Alguns dos momentos mais preciosos da história humana – pois são muito raros – são aqueles em que os artífices de uma criação artística terminam de fazer algo, se olham e concluem: “não fica melhor que isso”. Este filme não é outra coisa.
O repertório do concerto reúne as canções dos cinco primeiros e melhores álbuns da banda. Cada um dos Talking Heads está naquele momento – glorioso e efêmero – de transição da juventude à maturidade.
Os artistas convidados foram os melhores possíveis: feras do funk e R&B, como o tecladista Bernie Worrell do Parliament-Funkadelic, o guitarrista Alex Weir do Brothers Johnson, o percussionista Steve Scales e as cantoras Ednah Holt, do P-Funk, e Lynn Mabry, do Sly and the Family Stone. Era para dar certo ali e nunca mais. E assim se fez.
Vá correndo assistir Stop Making Sense e, se puder, veja em um dos cinemas IMAX.
Em Curitiba, o filme pode ser visto aqui e aqui.
Em Salvador aqui.