“Aqui tudo parece que era ainda construção e já é ruína”, escreveu Caetano Veloso, em 1994, antevendo que algo estava fora da ordem. Entre as coisas que inquietavam Caetano, podia estar a obra nunca terminada da arquiteta Lina Bo Bardi na Ladeira da Misericórdia, no centro histórico de Salvador.
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O projeto ousado e menos conhecido da arquiteta italiana, que desenhou o icônico edifício do Museu de Arte de São Paulo (MASP) e teve uma ligação profunda com a Bahia, vai ser retomado e, enfim, a obra vai deixar de ser ruína e cumprir seu ideal.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, a prefeitura de Salvador, em parceria com a Associação Cultural Pivô e com a bênção do Instituto Bardi — fundado em 1990 para preservar o legado do casal Pietro Maria Bardi e Lina Bo Bardi — vai transformar o complexo projetado por Lina, em meados dos anos 1980, em um centro cultural.
Uma permissão de uso do espaço por dez anos foi assinada com o Pivô, a mesma instituição que abriu ao público um espaço residual na sobreloja do edifício Copan, de Oscar Niemeyer, transformando-o em centro interdisciplinar de arte e cultura no centro histórico de São Paulo.
“O projeto de Lina para a Ladeira da Misericórdia representa o microcosmo de uma estratégia de desenvolvimento sustentável e de reocupação do centro histórico”, afirma Pedro Tourinho, secretário de Cultura e Turismo de Salvador.
Entre os parceiros institucionais do Pivô estão a curadora Lissa Carmona, embaixadora do Instituto Bardi, a editora Fernanda Diamant, sócia da livraria Megafauna e da editora Fósforo, e o gestor Lucas Pessôa, ex-presidente do Instituto Inhotim, em Minas Gerais, e ex-diretor do MASP.
Projeto Visionário
Nos anos 1980, Lina Bo Bardi foi convidada a integrar o Programa Especial de Recuperação de Sítios Históricos (PERSH) em Salvador, onde criou o projeto visionário para a Ladeira da Misericórdia, com o apoio dos arquitetos João Filgueiras Lima (Lelé), Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki.
Lina idealizou um espaço destinado à cultura, educação, comércio e lazer, integrando o patrimônio histórico com a vida cotidiana da população local.
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O complexo, localizado no coração do Centro Histórico de Salvador, inclui três edificações coloniais, o restaurante Coati e o bar dos Três Arcos.
Na parte interna, a arquiteta desenhou um palco ao redor do tronco, onde imaginava um dia assistir a uma apresentação de João Gilberto (1931-2019), segundo a reportagem da Folha.
Infelizmente não será possível, mas um show de Caetano… por que não?