A água é presença recorrente nas pinturas e desenhos de paisagens de Iberê Camargo (1914-1994), produzidos durante sua juventude e formação em Porto Alegre, entre 1940 e 1942. Antes de se mudar para o Rio de Janeiro, o pintor dedicou muito trabalho à representação das águas de Porto Alegre.
Nessas telas, o jovem artista já indicava o caminho que seguiria, tanto nos recursos estéticos quanto nos temas e questões evocados. A maior parte desse material compõe a mostra Iberê Camargo: Território das Águas, em cartaz no instituto que leva o nome do pintor, em Porto Alegre, até 23 de fevereiro do próximo ano.
Organizada por Gustavo Possamai e Blanca Brites, a exposição reúne 42 obras, entre pinturas e desenhos, de Iberê Camargo e sua esposa e parceira criativa, Maria Coussirat Camargo, apresentados pela primeira vez.
A lição das águas
Segundo a curadoria, o período retratado inclui esboços rápidos e pinturas sem retoques, quase sem presença humana, nas quais o lago Guaíba ou alguma “água” da cidade surgem de forma direta ou indireta.
A maioria dessas obras fez parte da primeira mostra individual de Iberê, que lhe rendeu o prêmio que permitiu sua mudança para o Rio. A motivação da exposição foi o fato de que o acervo de mais de 5 mil itens da Fundação Iberê Camargo escapou ileso da grande enchente que devastou Porto Alegre em 2024.
Na matéria publicada na Folha de S. Paulo, o repórter João Perassolo menciona as fotografias expostas, que mostram Iberê junto aos seus rios preferidos, como o Jaguari, no interior do estado. O rio dá nome à cidade onde ele morou na infância.
Ao lado das fotos, há uma seleção de frases em que o artista questiona o uso das águas do Guaíba, que é tecnicamente um lago, criticando os sucessivos aterramentos: “Vocês mataram o Guaíba, não é? Isso é um crime, e muito grave. É curioso que as pessoas não percebam os perigos”, disse Iberê.
Esses artistas e sua incrível capacidade de antever o futuro.