Como era esperado, o filme Ainda Estou Aqui, do diretor Walter Salles, foi escolhido para representar o Brasil na disputa por uma vaga de Melhor Filme Internacional no Oscar 2025. O anúncio foi feito ontem (23) pela Academia Brasileira de Cinema após decisão unânime da comissão de seleção.

Ainda Estou Aqui disputou com mais cinco produções: Cidade Campo, de Juliana Rojas; Levante, de Lillah Halla; Motel Destino, de Karim Aïnouz; Saudade Fez Morada Aqui Dentro, de Haroldo Borges; e Sem Coração, de Nara Normande e Tião.

Fernanda Torres em cena de Ainda Estou Aqui que concorre ao Oscar em 2025. Foto: Divulgação.

O longa ganhou o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Veneza – escrito por Murilo Hauser e Heitor Loreqa – e foi exibido nos festivais de Toronto e San Sebastián, além de selecionado para o Festival de Nova York.

“Estou orgulhosa de presidir essa comissão, que foi unânime na escolha desse grande filme sobre memória, um retrato emocionante de uma família sob a ditadura militar. Ainda Estou Aqui é uma obra-prima, sobre o olhar de uma mulher, Eunice Paiva, e com atuações sublimes das duas Fernandas. Esse é um momento histórico para nosso cinema. Não tenho dúvida que esse filme tem grandes chances de colocar o Brasil de novo entre os melhores do mundo. Nós, da indústria do audiovisual brasileiro, merecemos isso”, disse Bárbara Paz, presidente da Comissão de Seleção, em publicação da Academia Brasileira de Cinema.

Estrelado por Fernanda Torres, Fernanda Montenegro e Selton Mello, filme é ima adaptação de uma obra autobiográfica de Marcelo Rubens Paiva em que conta a história de sua mãe Eunice Paiva, viúva de Rubens Paiva, que foi levado de casa e morto pelos militares durante a ditadura.

80 Anos

Ainda que não seja nenhuma tragédia nacional, nunca uma produção brasileira ganhou a cobiçada estatueta da indústria estadunidense em nenhuma das categorias nos quase 80 anos de tentativas. Uma busca que começou em 1945, quando o samba-canção Rio de Janeiro, do grande Ary Barroso, disputou a estatueta de Melhor Canção Original pelo filme norte-americano Brazil, produzido em 1944 pela Republic Pictures.  O filme é estrelado pelo ator e cantor mexicano Tito Guizar que canta a música no filme.

Em 1960, o drama ítalo-franco-brasileiro Orfeu Negro venceu o Oscar de Melhor Filme Internacional, mas representando a França, não o Brasil. O filme estrelado pelo então jogador do Fluminense Breno Mello, de certa forma, usurpou o argumento e as canções da peça de Vínicius de Moraes, Orfeu da Conceição, e  nunca gozou de prestígio nas hostes cinematográficas brasileiras, muito pelo contrário.


Foi só em 1963, que o Brasil país teve seu próprio representante entre os melhores filmes estrangeiros do ano com o clássico O Pagador de Promessas de Anselmo Duarte, mas perdeu do drama francês Sempre Aos Domingos. Em 1986, a coprodução brasileira O Beijo da Mulher-Aranha recebeu quatro indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor para o argentino e brasileiro naturalizado Héctor Babenco (foto acima).Quem ganhou foi A Cor Púrpura, de Steven Spielberg.

Indicações depois da Retomada

Ainda nos anos 90, na empolgação da “retomada” do cinema nacional, três representantes brasileiros disputaram a estatueta de Melhor Filme Internacional: O Quatrilho (em 1996), O Que É Isso, Companheiro? (em 1998) e Central do Brasil (em 1999), sendo que este último rendeu ainda uma indicação de Melhor Atriz para Fernanda Montenegro.

Em 2004, Cidade de Deus, ignorado como Melhor Filme Internacional no ano anterior, recebeu quatro indicações nas categorias principais: Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia e Melhor Edição, mas não ganhou nenhuma, pois O Senhor dos Anéis passou o rodo nos prêmios.

No ano seguinte, dirigido pelo mesmo Walter Salles que vai concorrer este ano com Ainda Estou Aqui, o filme Diários de Motocicleta disputou dois Oscars e ganhou o de melhor canção: Al Otro lado Del Rio, do uruguaio Jorge Drexler. O diretor de animações Carlos Saldanha, já dirigiu quatro filmes indicados ao Oscar: Era do Gelo, Gone Nutty, Rio e Ferdinand, mas também nunca levou.

Único prêmio

A única brasileira nata a conquistar um Oscar em toda a história é Luciana Arrighi que em 1993 recebeu o Oscar de Melhor Direção de Arte pelo drama inglês Retorno a Howards End, estrelado por Anthony Hopkins, e Emma Thompson. Luciana ainda concorreu ao prêmio em outras duas ocasiões. Nascida no Rio de Janeiro, em 1940, ela mudou-se para a Austrália aos dois anos de idade e fez carreira na cena teatral de Londres e nas produção da emissora BBC.

Documentários e um grande curta

Alguns curtas-metragens e documentários nacionais também disputaram O Oscar ao longo do tempo como Raoni, que mostra a vida do líder indígena brasileiro Raoni Metuktire, Lixo Extraordinário, sobre o artista plástico paulista Vik Muniz, e a segunda O Sal da Terra, sobre o fotógrafo mineiro Sebastião Salgado, e Democracia em Vertigem, de Petra Costa.

Em 1998, o curta-metragem, Uma História de Futebol, de Paulo Machline, concorreu em sua categoria. O filme com roteiro do diretor e de José Roberto Torero que conta a história romanceada do nascimento de Pelé é tão bonito que merecia ter ganhado. Quem sabe seja em 2025.

Lista de Filmes indicados

Veja abaixo, todos os filmes brasileiros indicados por entidades da área cinematográfica para concorrer a categoria de Melhor Filme Estrangeiro/Melhor Filme Internacional do Oscar:

1961: “A Morte Comanda o Cangaço”
1963: “O Pagador de Promessas” (Indicado)
1965: “Deus e o Diabo na Terra do Sol”
1966: “São Paulo, Sociedade Anônima”
1968: “O Caso dos Irmãos Naves”
1969: “As Amorosas”
1970: “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”
1971: “Pecado Mortal”
1972: “Pra Quem Fica, Tchau”
1973: “Como Era Gostoso o Meu Francês”
1974: “A Faca e o Rio”
1975: “A Noite do Espantalho”
1976: “O Amuleto de Ogum”
1977: ”Xica da Silva”
1978: “Tenda dos Milagres”
1979: “A Lira do Delírio”
1980: “Bye Bye Brasil”
1981: “Pixote, a Lei do Mais Fraco”
1985: “Memórias do Cárcere”
1986: “A Hora da Estrela”
1987: “Um Trem para as Estrelas”
1988: “Romance da Empregada”
1989: “Dias Melhores Virão”
1991: “A Grande Arte”
1996: “O Quatrilho” (Indicado)
1997: “Tieta do Agreste”
1998: “O Que É Isso, Companheiro?” (Indicado)
1999: “Central do Brasil” (Indicado)
2000: “Orfeu”
2001: “Eu, tu, eles”
2002: “Abril despedaçado”
2003: “Cidade de Deus”
2004: “Carandiru”
2005: “Olga”
2006: “2 filhos de Francisco”
2007: “Cinema, aspirinas e urubus”
2008: “O ano em que meus pais saíram de férias” (Pré-Indicado)
2009: “Última parada 174”
2010: “Salve geral”
2011: “Lula, o filho do Brasil”
2012: “Tropa de elite 2: O inimigo agora é outro”
2013: “O palhaço”
2014: “O som ao redor”
2015: “Hoje eu quero voltar sozinho”
2016: “Que horas ela volta?”
2017: “Pequeno segredo”
2018: “Bingo: O rei das manhãs”
2019: “O grande circo místico”
2020: “A vida invisível”
2021: “Babenco — Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou”
2022: “Deserto particular”
2023: “Marte um”
2024: “Retratos fantasmas”
2025: “Ainda Estou Aqui”

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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