Para celebrar vinte anos de uma pesquisa continuada, o grupo recifense Magiluth propõe uma reflexão sobre o mundo de hoje a partir de um grande clássico da literatura. O espetáculo Édipo REC, uma releitura do texto de Sófocles, faz sua temporada de estreia entre 27 de setembro e 26 de outubro no Teatro do Sesc Pompeia, em São Paulo.
A peça, a 15ª da companhia, reforça a parceria do grupo com o encenador paulista Luiz Fernando Marques. “É o nosso quarto trabalho dirigido por ele. Brincamos que, na verdade, ele é um integrante de honra do Magiluth”, conta Giordano Castro, que assina a dramaturgia de Édipo REC.
No elenco estão Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral e Pedro Wagner, além da atriz Nash Laila, parceira do Magiluth em trabalhos audiovisuais, como a série Chão de Estrelas e o filme Tatuagem.
“Para esta nova montagem, queríamos fazer algo diferente do que vínhamos fazendo. Revisitamos a nossa trajetória e, tendo em mente a experiência com Dinamarca, escolhemos nos aproximar de outro clássico. Como nunca flertamos diretamente com uma tragédia grega, o Édipo foi a nossa escolha”, disse Castro.
Édipo do Recife
O REC do título faz uma referência ao Recife e à nomenclatura do audiovisual, significando “gravando”. A peça explora o imaginário de um Recife de 2024 e a logística de gravação presente desde o cinema da Era de Ouro. “Um dos aspectos que nos atrai nas pesquisas do Luiz Fernando Marques é justamente essa ponte com a Sétima Arte”, comenta Castro.
Édipo REC brinca com a cronologia, questionando a noção de tempo no teatro. O espetáculo começa com a alegria de um reino renascido, representando a contemporaneidade e a produção excessiva de imagens, como as de câmeras de segurança e as capturadas pelos celulares.
Por isso, o Coro é a câmera. Pequenas tragédias acontecem durante esse momento de descontração. A peça questiona o tempo de uma tragédia: “Quanto tempo dura uma tragédia? Vinte anos? Uma vida inteira? Por toda a eternidade?”
Em meio a essa tensão, personagens clássicos como Édipo, Jocasta, Creonte, Tirésias, Corifeu, Coro e Mensageiro interagem com outros corpos e tempos, em uma Recife-Pompéia fantasmagórica. O público vivencia duas experiências: a celebração e, depois, a tragédia junto com o protagonista.
Édipo e o cinema
O cinema foi uma inspiração central para a construção do espetáculo. O filme Édipo Rei (1967), de Pier Paolo Pasolini, serviu de referência, com sua estrutura em flashbacks, a mesma utilizada na peça. O experimentalismo levou o grupo a explorar o cinema underground japonês, com Funeral das Rosas (1969), de Toshio Matsumoto, sendo outra inspiração poética. Outros filmes que influenciaram o trabalho foram Hiroshima, meu amor (1959), de Alain Resnais, Cinema Paradiso (1990), de Giuseppe Tornatore, e Cabaret (1972), de Bob Fosse.
“O Édipo acredita tanto na imagem que criou de si como tirano que não enxerga sua essência. Hoje, as pessoas fazem o mesmo nas redes sociais, editando suas vidas até acreditarem nessas projeções”, reflete Luiz Fernando Marques.
Édipo REC questiona o papel do teatro e do cinema nos dias atuais. O grupo se pergunta se essas artes ainda podem lidar com tantas dores e tragédias. E, ao mesmo tempo, por que as pessoas sairiam de casa para ver uma história tão antiga? A resposta talvez esteja na necessidade humana de reviver grandes traumas.
Édipo REC
Quando: De 27/9 a 26/10. Quinta a sábado, às 20h. Domingos, às 17h. Sessões extras: 9 e 23/10, às 20h. Sessão especial: 12/10, sábado, às 17h. Sem sessões: 6 e 27/10.
Onde: Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93, Pompeia, São Paulo, SP.
Quanto: R$60 (inteira), R$30 (meia-entrada), R$18 (credencial plena) e grátis para crianças até 12 anos.