Passarinhar é o verbo usado por observadores de pássaros para descrever a atividade de caminhar em ambientes rurais ou urbanos, observando, percebendo e escutando as aves ao redor. Poucas vezes um verbo resumiu tão poeticamente a ação humana ao evocar o fecho brilhante do poema de Mario Quintana: “… eles passarão. Eu passarinho.”
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No entanto, foi em outro poema canônico da literatura nacional que Dira Paes encontrou inspiração para batizar seu filme de estreia como diretora. Pasárgada, em cartaz nos cinemas brasileiros desde quinta-feira (26), remete ao paraíso de delícias descrito no poema de Manuel Bandeira, mas não só.
Quase 40 anos após sua primeira aparição no cinema, em A Floresta das Esmeraldas, do inglês John Boorman – a quem Dira dedica o filme – a atriz paraense assina uma obra sensorial e intimista, na qual o som é elemento fundamental. A sensação transmitida é a de estar imerso na floresta.
Tanto é que o longa venceu o prêmio de Melhor Desenho de Som no Festival de Gramado onde estreou. Outro destaque é a trilha sonora original, que traz duas gravações especialmente feitas por Fafá de Belém, Alinhamento Energético, da Letrux, e Dona do Castelo, de Jards Macalé e Wally Salomão.
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Além de dirigir, Dira Paes escreveu o roteiro e protagoniza o longa, interpretando uma ornitóloga que, em meio às suas passarinhas nas florestas, conhece um jovem guia que transforma seu mundo. Não por acaso, o personagem vivido por Humberto Carrão, que fala a “língua dos pássaros”, se chama Manuel como o poeta que era “amigo do rei”. O elenco também conta com Cássia Kis, Peter Ketnath e Ilson Gonçalves.
A fotografia de Pablo Baião, companheiro de Dira, retrata uma Mata Atlântica exuberante, mas também úmida, escura e sufocante. Uma floresta como poucas vezes se viu no cinema. Com tudo somado, Pasárgada de Dira Paes não é para ser apenas visto nos cinemas. É para ser passarinhado.