A neta do “poetinha”, Mariana de Moraes, explicou a origem dos poemas que viraram o livro A Arca de Noé, escritos pelo avô Vinicius (1913-1980) nos anos 1960. “Foi uma questão que seu filho Pedro lhe fez: o que é isso de escrever poesias? Para demonstrar, ele escreveu esses textos e por isso estamos todos aqui”, disse ela.

“Aqui” era a coletiva de imprensa do lançamento do filme Arca de Noé, que ocorreu em um hotel em São Paulo, nesta terça-feira (29), no penúltimo dia da Mostra de Cinema de São Paulo. E “todos” significava muita gente importante da produção do filme, mas não toda a super badalada equipe.

O trio de ratinho Tom, Nina e Vini. Fotos: Divulgação

“A sorte é que a dublagem pode ser feita aos poucos, pois, se a gente reunisse todo o elenco ao mesmo tempo, parava a produção no país”, brincou Sérgio Machado, um dos diretores, ao lado de Alois di Leo, e um dos idealizadores do projeto, junto com Susana de Moraes (1940-2015), filha de Vinicius, que teve a ideia, mas faleceu antes de ver o filme finalizado.

“Tudo que envolve Vinicius precisa ser grande. Garota de Ipanema é uma das três músicas mais tocadas da história. O filme Orfeu no Carnaval ganhou o Oscar e a Palma de Ouro. A série de TV A Arca de Noé ganhou o primeiro Emmy. O documentário sobre ele é o mais visto na história do Brasil. Este filme também precisava ser”, disse o diretor.

Nenhum projeto do cinema brasileiro é tão ambicioso quanto a animação Arca de Noé, que estreia com mil cópias nos cinemas do país a partir do dia 7 de novembro. Os produtores se orgulham em dizer que é a maior animação já feita no Brasil; o filme será lançado em 70 países e terá versões especiais para a Europa e os Estados Unidos.

O filme marca a primeira grande parceria em uma animação de grande porte entre o know-how brasileiro e a tecnologia indiana. Arca de Noé tem supervisão artística de Walter Salles e um elenco extenso e estrelado, começando pelo já citado trio de protagonistas: Rodrigo Santoro, Marcelo Adnet e Alice Braga.

Além disso, se ouvem as vozes de Lázaro Ramos, Gregório Duvivier, Julio Andrade, Bruno Gagliasso, Giovanna Ewbank, Eduardo Sterblitch, Ingrid Guimarães, Heloisa Périssé. E também Marcelo Serrado, Débora Nascimento, Monica Iozzi, Babu Santana, Laila Garin, Chico César e Seu Jorge, que interpreta Deus, o responsável por decretar o dilúvio. Só para se ter uma ideia, na versão americana, quem faz a voz da andorinha de Gagliasso é Leonardo DiCaprio.

Ratinhos parceiros

Como o conjunto de poemas que o inspirou não tem uma história que os conecte, Machado e as roteiristas Ingrid Guimarães e Heloísa Perissé usaram a conhecida história da arca do patriarca bíblico Noé, criada para salvar as espécies animais de uma chuva de 40 dias enviada pelos céus para depurar o planeta.

O protagonismo fica com dois ratinhos parceiros musicais, Tom e Vini, baseados no poeta e em seu parceiro Tom Jobim. Quem dá voz a eles são, respectivamente, Rodrigo Santoro e Marcelo Adnet. No meio da trama, junta-se a personagem Nina, também roedora, vivida por Alice Braga.

Santoro contou que a gravação das falas aconteceu antes da produção das imagens, e que a expressão corporal que ele e Marcelo Adnet faziam no processo foi usada pela equipe de animação para dar “vida” aos personagens. Adnet contou que conheceu Tom Jobim e que Vinicius foi sua grande influência e, assim, se emocionava em vivê-los na tela.

Mensagens aos jovens

O filme é uma arca de referências da cultura brasileira, da natureza exuberante aos festivais de música e programas de calouros. Dos textos do bem-amado Dias Gomes à bossa nova e aos pancadões do funk. “É tudo muito brasileiro”, arrematou Santoro.

A história é uma caótica disputa que se dá dentro do ambiente de confinamento da arca entre as espécies mais fortes, que tiranizam as “menos nobres”. Nisso, a obra de Vinicius e parceiros, repaginada com arranjos contemporâneos, é reapresentada.

No final do bate-papo, o diretor Machado disse que o filme busca formar plateias infanto-juvenis e, para tanto, deixa uma mensagem final importante que Vinicius de Moraes assinaria:“A gente queria deixar a mensagem de que os fracos precisam se juntar para fazer frente aos poderosos e aos tiranos.”

 

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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