Quando ainda era menina em Formosa, cidade do nordeste mineiro, a menos de 50 km da fronteira com a Bahia, Ana Eliza de Souza ouviu da mãe que não era para se meter com “esse negócio de música”.
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A menina, contudo, não escutou o “que mamãe dizia” e começou a cantar com 10 anos, nas festinhas da igreja da cidade. Aos 15, já estava cantando nos bares da região e, logo em seguida, chegou a tentar morar no Rio de Janeiro nos anos 1960, mas voltou para Belo Horizonte, onde levou em paralelo a carreira de cantora e compositora de samba com a profissão de empregada doméstica.
Dona Eliza, hoje aos 74 anos, é uma das baluartes da Velha Guarda do Samba de Belo Horizonte. Compositora pioneira do gênero no estado, ela tem mais de 700 canções registradas.
Dona Eliza só lançou o primeiro álbum com composições próprias, Diploma da Vida, em 2017, quando completava 50 anos de carreira. “Estou me sentindo uma criança quando ganha um brinquedo”, disse à época ao site e canal Almanaque do Samba, de Belo Horizonte.
Concerto Especial
Nesta quarta-feira, Dia da Consciência Negra, ela será uma das homenageadas pelo concerto da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, que cobre os 200 anos da obra de compositoras e compositores afrodescendentes no Brasil.
A orquestra vai interpretar uma de suas composições mais reverenciadas, “Povo negro, raça Zumbi”, na voz da cantora Adriana Araújo. “A música é de um ícone do samba local, com significado grande para mim e para a música negra. Diz o que está acontecendo neste novembro em torno do povo preto. Um povo que luta, batalha pelos sonhos e não deixa a peteca cair. O objetivo é exaltar artistas negros – os vivos e os que se foram”, disse em entrevista ao jornal Estado de Minas.
Além do samba de Dona Eliza, o programa do concerto transita entre o repertório erudito, com influência europeia, e a música popular brasileira.
200 anos de música negra
Com regência do maestro baiano Angelo Rafael Fonseca, a primeira parte do programa vai reunir peças do século 19. “Começamos com ‘Abertura em ré’, do padre carioca José Maurício Nunes Garcia, compositor negro. Depois vem a abertura da ópera ‘Uma noite no castelo’, de Henrique Alves Mesquita, também negro e carioca. Na sequência, apresentamos ‘Atraente’, de Chiquinha Gonzaga, fazendo a transição para o século 20 e também do universo erudito para o popular”, disse o maestro Angelo Fonseca ao Estado de Minas.
Haverá a estreia da “Suíte Atlântico Negro”, do sergipano Hugo Sanbone, criada especialmente para a ocasião. O programa terá obras de Nunes Garcia, Henrique Mesquita, Chiquinha Gonzaga e será encerrado com “Aquarela Brasileira”, de Silas de Oliveira.
Sinfônica de Minas e convidados
Onde: Grande Teatro Cemig do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.357, Centro)
Quando: quarta-feira (20/11), às 20h
Quanto: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda na bilheteria local e na plataforma Eventim