Apresentado durante o último Festival de Curitiba, o Comitê de Cultura do Paraná, em seis meses de funcionamento, promoveu 46 ações e atingiu 3,1 mil pessoas em todo o estado.
Esteve presencialmente em 11 cidades paranaenses – Curitiba, Pinhais, Piraquara, Fazenda Rio Grande, Colombo, Almirante Tamandaré, São José dos Pinhais, Araucária, Campo Largo, Campo Magro e Quatro Barras – e firmou parcerias permanentes com quatro instituições, além de pontuais com outras nove entidades.
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Estes números e ações estão no balanço do período enviado ao Ministério da Cultura (MinC) em relatório de prestação de contas, com mais de 90 páginas. Ao todo, o convênio assinado pelo MinC e pelo Coletivo Soylocoporti, que está à frente do Comitê de Cultura do Paraná, tem duração de dois anos.
“Estamos cumprindo todos os objetivos estabelecidos pelo programa, com ações concretas e resultados mensuráveis. É um trabalho colaborativo e inclusivo que fortalece a cultura do estado”, comemora João Paulo Mehl, coordenador-geral da organização. “Temos compromisso com o desenvolvimento sustentável e justo do setor cultural.”
Entre as atividades desenvolvidas pelo Comitê, 32 aconteceram através do Propulsão Cultural, iniciativa de assessoramento técnico de projetos para a disputa de editais, promovida em parceria com o Laboratório de Cultura Digital (LabCD) da UFPR e com o Sindicato dos Artistas e Técnicos do Paraná (Sated/PR). O Propulsão alcançou, sozinho, mais de mil pessoas, somados os encontros presenciais e online.
Propulsão Cultural
Entre as beneficiadas está a cineasta Patrícia Ressureição, que pela primeira vez foi aprovada num edital de incentivo. A proposta do curta-metragem “Entre nós” passou na Lei Aldir Blanc. “Eu tinha um sonho e esse sonho foi realizado através do Propulsão”, conta. “Ali, me senti acolhida. Uma galera me ajudou a escrever o projeto. Outra, a organizar a documentação. Foi essencial. Sem isso, eu não teria conseguido.”
A metodologia do Propulsão Cultural deu resultados tão animadores que foi exportada para os Comitês de Cultura de outros 18 estados, por meio de um curso virtual. Nestes primeiros seis meses de funcionamento, o Comitê do Paraná ainda promoveu ou apoiou 14 atividades de mobilização (eventos artísticos), principalmente nas periferias de Curitiba.
O Fringe entrevistou o coordenador geral do Comitê de Cultura do Paraná e falou sobre as ações já realizadas e os projetos para o próximo período. Leia Abaixo:
Dá para fazer um balanço dos números, mas também dos resultados práticos deste primeiro semestre de atuação do Comitê de Cultura do Paraná?
Em apenas seis meses de funcionamento, o Comitê promoveu 46 ações e atingiu 3,1 mil pessoas em todo o estado. Os números, por si só, são bem animadores, e indicam que estamos cumprindo todos os objetivos estabelecidos pelo Ministério da Cultura, com ações concretas e resultados mensuráveis.
Mas o saldo vai além. Estamos fortalecendo políticas públicas, transformando realidades, revigorando territórios, estimulando o centro e a periferia, o campo e a cidade.
Na área da cultura, quando a gente fala em política pública, fala muitas vezes em apoiar o que já é feito. A cultura quem faz é a sociedade, é o nosso povo, e faz isso cotidianamente. Se você pegar o exemplo de uma batalha de rima na periferia, ela já acontece, já está lá, independente de qualquer coisa.
O que cabe aos programas governamentais é ajudar a financiar, pra que esses agentes, esses trabalhadores da cultura, sejam remunerados de forma adequada. Pra que a gente tenha o artista, o produtor e a equipe técnica ganhando bem.
Isso é uma coisa que estamos construindo com o Comitê: mostrar a força que a cultura tem na geração de emprego e renda, desde que devidamente estimulada.
É possível destacar um exemplo de como a atuação do comitê impactou algum agente cultural local?
O Propulsão Cultural é o nosso carro-chefe, podemos dizer assim. Uma metodologia desenvolvida por nós, e executada em parceria com o Laboratório de Cultura Digital da UFPR e com o Sindicato dos Artistas e Técnicos do Paraná, pro assessoramento técnico de projetos na disputa de editais. E por quê? Porque uma das missões do Comitê é fazer o dinheiro das políticas públicas chegar aonde nunca chegou antes. Sozinho, o Propulsão Cultural alcançou mais de mil pessoas, em encontros presenciais e online.
E a gente sabe que está sendo bem-sucedido quando vê o caso da Patrícia Ressureição, uma cineasta, negra, que pela primeira vez vai ter o seu filme, o seu curta-metragem, financiado. A Batalha da Menô, que é a maior batalha de rima de Curitiba, nunca tinha tido apoio, e agora vai receber um suporte, pro pessoal fazer o que sabe fazer com mais qualidade, com mais força, conseguir respirar um pouco. Ter os artistas, os produtores, o pessoal da técnica com algum dinheiro no bolso.
Introduzir um artista nas políticas públicas é muito estimulante. Isso mexe muito comigo, é uma coisa que fazemos com paixão. No fim, o Propulsão Cultural deu tão certo que a metodologia foi exportada pros comitês de outros 18 estados, que ficaram interessados no que a gente anda fazendo por aqui.
Neste primeiro semestre, qual foi o maior desafio que o comitê encontrou na hora de colocar as ações em prática?
No Propulsão Cultural, o nosso grande objeto de trabalho é a Lei Aldir Blanc, uma lei nova que distribui recursos para os estados e municípios. Só que quando esse recurso bate na ponta, o que a gente percebe é que a estrutura do Estado é absolutamente insuficiente pra executar. Se de um lado nós temos servidores altamente comprometidos, o número fica muito aquém do necessário. Alguns municípios nem tem servidor na área da cultura.
Então, para nós, o desafio é fazer a política pública rodar. E isso também diz respeito a você ter, por exemplo, uma Procuradoria Municipal afinada, entendendo o que é a lei, essa camarada burocrática compreendo todas as etapas em que deve se envolver pra esse recurso efetivamente sair do Governo Federal, passar pelo município e chegar até o trabalhador da cultura. Esse é o grande desafio que nós temos enfrentado.
Qual é a meta e quais são os próximos passos do comitê para o próximo período?
Neste primeiro semestre, estivemos presencialmente em 11 cidades: Curitiba, Pinhais, Piraquara, Fazenda Rio Grande, Colombo, Almirante Tamandaré, São José dos Pinhais, Araucária, Campo Largo, Campo Magro e Quatro Barras. Nossa grande meta é chegar no Paraná inteiro. Pra isso, obviamente, a gente não pode contar só com a estrutura do Comitê. Com ela, nós conseguimos chegar em alguns outros territórios, como a região imediata de Laranjeiras do Sul, onde o Ceagro [Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia] funciona como nosso braço de atuação.
Pra expandir isso, temos uma parceria com o Instituto Federal do Paraná pra formar os chamados agentes territoriais de cultura, que vão ser distribuídos por todo o estado, funcionando como pontas de lança das políticas públicas, pra fazer com elas efetivamente cheguem até os nossos rincões. E claro, queremos contar também a força do governo do Estado, com a força dos municípios, ofertando contrapartidas que possam potencializar a Lei Aldir Blanc.
A gente tem muita confiança nessa capacidade de capilarização. Nacionalmente, já temos uma atuação muito forte, em rede, com os comitês de outros estados. Estamos construindo uma unidade pra desenvolver políticas culturais e fazer a cultura ser reconhecida não apenas como a alma do nosso povo, mas também como a potência econômica que, inclusive, ela já é.