Para as últimas três gerações, não é tão fácil entender o que foi o Canal 100 e o que ele representou para a formação da identidade brasileira. Criado em 1959, era um “cinejornal”, com notícias do cotidiano das cidades, da política e, principalmente do futebol, que passavam antes dos filmes nos cinemas.
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No tempo em que os cinemas eram o grande programa de lazer e não havia ainda uma televisão em cada casa, o Canal 100 transformava em imagem as notícias que as pessoas só imaginavam ouvindo no rádio ou lendo revistas e jornais. E que imagens…
Arte Cinematográfica
Inventado pelo empresário carioca Carlos Niemeyer, o Canal 100 criou uma linguagem audiovisual própria. Usando câmeras teleobjetiva, cinegrafistas lendários como Francisco Torturra faziam close-up e ângulos dinâmicos e faziam verdadeiros documentários semanais. As imagens iam além do óbvio do registro de um jogo de futebol por exemplo, a câmera vira para o drama e o carnaval das torcidas nas arquibancadas.
Tudo embalado pela narração em voz de baixo do recém falecido Cid Moreira e da música Na Cadência do Samba, de Luiz Bandeira. No primeiro acorde, já se abre um mundo inteiro.
O Canal 100 era tido como arte já em seu tempo e muita gente ia ao cinemas para ver a nova edição e tanto fazia o filme que tivesse em cartaz. Muitos brasileiro só conheceram Pelé e Garrincha ou presidente Juscelino e Jânio nas telas do cinema No Canal 100, o Brasil passou a se reconhecer.
Acervo será preservado
Esta longa introdução serve para dizer que nesta quarta-feira (27) apresentou o projeto de conservação projeto de preservação deste acervo cinematográfico em evento na sede da instituição.
Produzido e exibido semanalmente de 1959 a 1986, o acervo Canal 100 é formado por cerca de 21.793 segmentos de notícias, em 8.044 latas, e 15.252 folhas de documentos textuais, São materiais de imagens positivas em cores e em preto e branco, além de negativos originais de imagem e de som.
Todo esse material está sob guarda da Cinemateca Brasileira, que é responsável pela preservação e agora será digitalizado, conservada e disponibilizado. Documentaristas brasileiros ficam emocionados, pois o pouco que já tem circulando no YouTube é só uma pequena parte do vasto material em que a entidade vai trabalhar.
No evento, a diretoria da Cinemateca disse que algumas ações que fazem parte desse processo são duplicação fotoquímica de centenas de rolos de filmes para fins de preservação de longo prazo, digitalização de 30 horas de cinejornais e a aquisição de equipamentos que permitirão o acesso facilitado e gratuito ao conteúdo digitalizado, disponibilizado no Banco de Conteúdos Culturais da Cinemateca.
Desafios da preservação
A diretora técnica da Cinemateca, Gabriela Sousa de Queiroz, afirmou que o desafio é entregar esse acervo devidamente catalogado, digitalizado e duplicado fotoquimicamente em 2026. “O Canal 100 encerrou em 1986 e, em 2026, quando se comemora 40 anos das suas últimas edições, a gente vai devolvê-lo para a sociedade”, estimou.
“Quando o acervo chega [à Cinemateca] em 2011, a gente tinha o indicativo de 65% a 70% de materiais com algum sinal de deterioração, de um universo de mais de 8 mil latas de filmes de 35 milímetros, mais ou menos 20 mil segmentos de notícias, não só futebol, mas coluna social, toda história política da segunda metade do século 20 no Brasil e no mundo, no contexto do golpe de 1964, as lutas pela redemocratização, todo o contexto de Guerra Fria”, relatou sobre a riqueza do material e a importância de sua recuperação.
O projeto de recuperação terá ainda uma programação especial. Para 2026, ano da próxima Copa do Mundo, a instituição prevê uma grande mostra itinerante de filmes sobre futebol, incluindo trechos icônicos do Canal 100 e momentos da história do esporte como parte da cultura nacional.