Há filmes que no primeiro fotograma já conseguem traduzir um tempo, um modo de viver uma geração. “Feliz Ano Velho”, adaptação do livro de Marcelo Rubens Paiva, dirigido por Roberto Gervitz é um deles. O longa que marcou a juventude dos anos 1980 ao abordar temas como ditadura, abertura e a invenção de uma certa juventude brasileira que gritava por liberdade é um deles.
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Baseado no livro publicado em 1982, nos estertores da ditadura, o filme narra a história autobiográfica de Paiva. Aos 20 anos, em 1979, Paiva vivia o auge de sua juventude, entre festas, sexo e viagens dentro do contexto histórico da Lei de Anistia, que encerrou os anos de perseguição no Brasil contra todos aqueles que eram considerados inimigos pelo governo militar.
No mesmo ano, ele sofreu um acidente que o deixou tetraplégico. Em “Feliz Ano Velho”, Paiva escreveu sobre a adaptação ao seu próprio corpo e ao mundo, enquanto lembra o sequestro e assassinato de seu pai, o ex-deputado Rubens Paiva, pelo regime militar.
A escrita coloquial de Paiva atiçou o interesse da juventude da época e foi um grande best seller. “O livro tinha uma narrativa cheia de vida e de associações livres. As épocas se alternavam e evocavam experiências comuns para jovens de classe média de nossa geração”, diz o diretor. “Eu queria refletir sobre o medo de viver em meio a um mundo que ficava para trás e outro que mal se anunciava e já ameaçava.”
“Feliz Ano Velho”, que têm no elenco Malu Mader, Marco Nanini e Eva Wilma, não foi uma unanimidade para a crítica, mas fez sucesso nos cinemas, lançado no ano em que a Assembleia Nacional Constituinte estava reunindo terminando o texto de nossa Carta Magna de 1988, preparando o terreno da redemocratização.
A esperança de um país diferente e libertário se fundia à frustração da imobilidade diante da inflação, de governos conservadores e a da epidemia de HIV. “O Brasil saía da ditadura e, apesar da grave crise econômica, havia uma euforia relacionada à capacidade de a sociedade civil lutar pelos seus direitos”, lembra Gervitz.
Marcelo diz achar curioso que um livro escrito há 40 anos volte a despertar interesse. Isso porque as vendas de “Feliz Ano Velho” voltaram a crescer, junto às de “Ainda Estou Aqui”. O autor relaciona o fenômeno ao momento político delicado que o país enfrenta, com discussões sobre “o que é democracia, o que foi a ditadura e porque devemos evitá-la.”
Feliz Ano Velho está em Cartaz no Cinesystem Frei Caneca e Shopping Bourbon (São Paulo), Botafogo (Rio de Janeiro), Casa Park (Brasília) e Saladearte (Salvador)
Com informações da Folhapress