Como toda boa filha de pais vindos do interior, cresci em uma família que ouvia sertanejo. Em um rádio com dois decks de fita cassete, era comum, aos domingos, ouvir canções de duplas como Chitãozinho e Xororó, Tonico e Tinoco, Milionário e José Rico entre tantas outras que discorriam sobre amor e a vida no campo. Me lembro bem que, além de grandes timbres das vozes ressoadas pelos seus cantores, ainda havia coerência sonora. Era uma construção bonita e harmoniosa e que surge no imaginário popular a qualquer momento que alguém inflame um hit como Evidências, por exemplo.
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Entretanto, esse sertanejo raiz perdido na roça deu espaço ao sertanejo do agro, com investimentos milionários e muitas vezes construídos dentro de um estúdio. Pega-se uma dupla com uma voz ajustável e constrói-se uma letra caracterizada em torno de bebida e festa. Bingo! Temos um novo número 1 dos charts. Até aí, tudo bem. O problema é: qual o limite do bom senso (ou do bom gosto)?
Brenno e Matheus fazem parte da safra do sertanejo agro que tem uma nova dupla a cada semana. Passam longe da viola crua e se apóiam em bases de estúdio e mixagens para falar que: “Papai deixou uma herança bem gorda pra mim, tem terra pra plantar e pra criar uns gadin, mas eu me dei conta que isso não é pra mim.Prefiro pé na areia do que pé no capim”. Ou seja, o clássico da ostentação que é bem comum no estilo nos dias de hoje e que passa longe da verdadeira origem do sertanejo. Não entrega letra bonita, não entrega construção sonora mas entrega grude. Sim. Descer pra BC é mais grudenta que chiclete fresco no asfalto.
Se não bastasse a peculiaridade de importar a polêmica Balneário Camboriú à letra, a produção ainda conta com a participação do DJ Ari SL que dá um ponto ainda mais tenebroso à música com um pseudo-techno-agro inventado às pressas. Ou seja: o clássico hit ruim do verão que promete invadir os equipamentos sonoros dos carrões da Av. Atlântica da cidade catarinense.
Fiquem longe!