20 de janeiro marca o aniversário de Federico Fellini, nascido há 105 anos na cidade de Rimini, na costa do mar Adriático. No próximo sábado, 25 de janeiro, o espetáculo intitulado “Tudo Acaba e Nada Tem Fim“ será apresentado em um ensaio aberto no Teatro do Espaço Excêntrico Mauro Zanatta, com entrada franca, às 19h, com 50 lugares ocupados por ordem de chegada.
As datas estão relacionadas porque a peça é fruto de uma pesquisa de 30 anos do escritor, dramaturgo e curador Antonio Cava sobre o diretor de Oito e Meio. Trata-se de um monólogo no qual, pela primeira vez, o autor — que já escreveu outras três peças — estará no palco durante uma hora e dez minutos. “Queremos ensaiar com o público”, brinca Cava.
“Na verdade, quem faria o papel seria o Mauro Zanatta, grande ator e diretor. Eu e ele dirigiríamos, como sempre faço nos espetáculos que crio. Mas o Mauro é muito solicitado para outros projetos, e então decidimos inverter os papéis: eu interpreto, e ele me dirige”, explicou Cava.
Curadoria Felliniana
O texto de “Tudo Acaba e Nada Tem Fim” vem sendo lapidado desde que, no meio da década de 1990, Cava começou a colecionar material sobre Fellini.”Quando surgiu o computador, criei um arquivo onde reúno todas as frases que considero relevantes do Fellini e de pessoas que trabalharam com ele. Um trabalho de curadoria. Para a peça, juntei todas essas frases e histórias”, explica.
Há, portanto, muitos frases ditas pelo próprio Fellini, de críticos, colegas e jornalistas sobre o seu trabalho e atores como Roberto Benigni, que trabalhou no último filme de Fellini, A Voz da Lua, e disse que “atuar num filme do Fellini é como um carpinteiro trabalhar com São José”.
Nos últimos cinco anos, desde 2020, ele decidiu dar um tratamento dramatúrgico ao material, criando uma peculiar entrevista coletiva em que o público fica no papel de repórter. Algo como “A Última Entrevista de Fellini”, que, aliás, foi o título provisório do projeto por algum tempo.
“Fellini nunca colocava a palavra ‘fim’ nos filmes. Nos primeiros, os produtores o obrigavam, mas, quando assumiu o controle de sua carreira, nunca mais fez isso. Você não verá a palavra ‘fim’ em Amarcord ou La Dolce Vita. Isso inspirou o título definitivo: ‘Tudo Acaba e Nada Tem Fim’“, explica Cava, que retirou a frase de uma música do álbum Uns, de Caetano Veloso.
Além da dramaturgia de fermentação lenta, a peça tem surpresas como trilha sonora e o uso de imagens, mas o principal cuidado da dupla Cava e Zanatta é evitar emular Fellini. “Não queremos um espetáculo felliniano. Quem tenta imitá-lo em geral, se dá mal. Trata-se de um Fellini mais realista, falando sobre seu método e mesclando memórias de infância e trabalho”, explicou.
Galeria Fellini
Filho de imigrantes italianos, Antonio Cava cresceu no bairro de Madureira, no Rio de Janeiro. Trabalhou em várias profissões antes de conseguir estudar teatro na Casa de Artes de Laranjeiras (CAL), onde cursou direção teatral e interpretação.
Escreveu, dirigiu e produziu três peças teatrais que chegaram ao circuito comercial — duas no Rio de Janeiro e uma em Tiradentes, durante o festival de cinema local.
Além do teatro, Antonio Cava atuou como curador em mais de 50 exposições e eventos culturais, com destaque para mostras de cinema dedicadas a diretores como Dario Argento, Luchino Visconti, Pasolini e, claro, Fellini.
Sua dedicação especial à obra do diretor de A Doce Vida permitiu que, em 2020, no centenário do cineasta italiano, fosse inaugurada em Curitiba a “Galeria Fellini 100 Anos” no Museu Guido Viaro.
O espaço, que abriga um acervo vasto de livros, filmes, fotos, desenhos e objetos, foi construído sem recursos públicos ou privados, com apoio de amigos e cinéfilos, e segue em pleno funcionamento, promovendo exibição de filmes, debates, aulas, leituras e exposições.
Serviço:
“Tudo Acaba, Nada Tem Fim”, de Antonio Cava, com direção de Mauro Zanatta
Fringe é uma plataforma de comunicação e entretenimento sobre arte e cultura brasileiras criada dentro do Festival de Curitiba e conta com o patrocínio da Petrobras