Quando a escritora e uma das precursoras do feminismo negro no Brasil, Lélia Gonzales (1035-1994) citou o termo “Améfrica Ladina” em seu livro homônimo, acabou por criar uma neologia que descreve perfeitamente o racismo e a xenofobia que os negros, indígenas latino-americanos, caribenhos e demais povos da américa “não civilizada” – como muito já disseram os que habitam o norte do planeta – sofrem até hoje.

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Entretanto a  “Améfrica Ladina”, por fim, vem criando voz e um comportamento de pertencimento ao longo dos séculos. Uma identidade forte e construída pedra sobre pedra, mas que começa a ficar presente a cada dia.

Aparentemente o BaianaSystem sabe disso há muito tempo e vem erguendo suas paredes ao longo dos seus discos anteriores, mas agora, no quinto álbum de estúdio, O Mundo Dá voltas, a banda parece ter colocado o telhado. Utilizou, inclusive, a neologia de Lélia Gonzales na faixa Porta- retrato da Família Brasileira.

A Améfrica é Ladina!

Uma produção magnífica que contou com o Maestro Ubiratan Marques, Antônio Carlos & Jocafi, Gilberto Gil e Mestre Lourimbau em arranjos que passam pelo samba-reggae, Ijexá, cantos ancestrais e ritmos caribenhos. Um verdadeiro passeio pelos acordes latinos que se costuram perfeitamente entre si. Destaque para a transição entre Magnata e Palheiro (esta última por sinal, emociona nos arranjos de violão oriundos do Caribe em um belo solo de duas vozes).

Agulha vem logo na sequência com a linda participação de Claudia Manzo. Aliás, os feats são um presente à parte com nomes como Melly, Dino D’Santiago, Emicida, Seu Jorge, Gilberto Gil, Manoel Cordeiro, Pitty, Anitta, além da atriz Alice Carvalho.

Pote D’água por exemplo, composição do mestre do berimbau Lourimbau e regravada com arranjos de Ubiratan Marques, tem trechos da gravação original e conta com a participação de Gil.

“É a música mais importante do disco, a mais linda, desse sentimento de música brasileira. Tinha que ser Gil para gravar porque é um mestre trazendo na vida de Lourimbau a importância desses e de outros mestres que muitas vezes são invisibilizados. É uma grande dádiva, potência, o grande elemento forte de poder musical que a gente agradece fazer parte de vez, de ver Gil cantando Lourimbau dentro de um grupo como BaianaSystem”, revela Russo Passapusso, vocalista da banda.

O Mundo dá Voltas é uma espécie de ode a nós mesmos: latinos, afros e indígenas. Para o Baianasystem – ainda mais – soteropolitano e “toda fé de Salvador”, como é citado em Ogun Nilê, faixa que encerra perfeitamente o disco.

 

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Jornalista, DJ e especialista em música brasileira

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