Tincoã é o nome de uma ave canora das matas e cerrados brasileiros cujo nome pode ser traduzido como “pássaro feiticeiro”. Segundo as crenças, seu canto é um presságio da proximidade da morte para quem ouve e, por isso, a espécie também é conhecida como “alma-perdida” ou “alma-de-caboclo”.
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O nome da ave de canto fatídico foi escolhido para batizar um dos mais importantes grupos musicais brasileiros surgidos na década de 1960. Os Tincoãs nasceram em 1961 na cidade de Cachoeira, na Bahia, como um trio de bolero, como os muitos que faziam sucesso naquela época.
Tincoãs nas Paradas
Em 1973, como se fossem aves feiticeiras, o grupo ressurgiu cantando um repertório diferente, baseado nas religiões afro-brasileiras, com versos em iorubá (língua ancestral falada em alguns países da diáspora africana) e em português, incluindo mensagens contra injustiças raciais e sociais.
O trio, composto por Dadinho (Grinaldo Salustiano) e Heraldo Bozas ao lado de Mateus Aleluia, chegou às paradas de sucesso e ao programa Globo de Ouro, da TV Globo, com o sucesso “Deixa a gira girar”.
Nos anos 1980, Dadinho e Mateus se mudaram para Angola, fascinados pela possibilidade de contato com as culturas africanas do país, que havia se tornado independente, e não voltaram por anos. Inclusive, o último LP dos Tincoãs, Canto Coral Afro-Brasileiro, permaneceu inédito desde 1983 até 2022, quando foi enfim relançado.Dadinho já havia falecido no ano 2000, e Mateus Aleluia voltou à Bahia dois anos depois.
Mateus Aleluia, o remanescente
Hoje, como remanescente dos lendários Tincoãs, o cantor, compositor e pesquisador será a atração principal de uma noite especial no Centro de Cultura de Porto Seguro, no dia 26 de janeiro de 2025.
O evento celebra os 18 anos do Instituto Sociocultural Brasil Chama África, marcando quase duas décadas de valorização das culturas afro-brasileiras e indígenas.
Mateus Aleluia apresentará um repertório que combina poesia, ancestralidade e musicalidade ritualística. A celebração começa às 15h, com uma roda de conversa na Sala Multiuso. O encontro contará com a presença de Dona Rosinha, guardiã de saberes tradicionais, e da Iyalorixá Marlene de Nanã. Os diálogos abordarão temas como ancestralidade e poéticas afro-indígenas, ampliando os debates culturais promovidos pelo Instituto.
Às 19h30, Mateus Aleluia sobe ao palco da Sala de Espetáculos para apresentar clássicos como “Sabiá”, “Obatalá” e “O Virgem Virei Leão”, relembrando a era de Os Tincoãs. O repertório incluirá também composições solo, como “Cinco Sentidos” e “Convênio com Cordeiro de Nanã”, reafirmando a conexão espiritual e poética de sua obra.
Brasil Chama África
Desde sua fundação, em 2007, o Instituto Brasil Chama África promove ações de valorização das culturas afrodescendentes e indígenas. Atuando como símbolo de resistência cultural em Porto Seguro, a entidade fomenta diálogos sobre ancestralidade e práticas pedagógicas afro-indígenas.
Show de Mateus Aleluia pelos 18 anos do Instituto Sociocultural Brasil Chama África
Onde: Centro de Cultura de Porto Seguro
Quando: 26 de janeiro de 2025, a partir das 15h (roda de conversa) e às 19h30 (show)
Quanto: Entrada gratuita