Por Sandoval Matheus
A 33ª edição do Festival de Curitiba tem batido recordes de venda. A partir do momento em que a bilheteria foi aberta, no dia 06 de fevereiro, a peça “Ao Vivo (dentro da cabeça de alguém)”, da Cia Brasileira de Teatro, precisou de apenas de 24 horas para lotar.
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Ao todo, quatro espetáculos dentro da Mostra Lucia Camargo abriram sessões extras, e a comédia “Avesso do Avesso”, com Heloísa Périssé e Marcelo Serrado, precisará fazer duas apresentações adicionais para dar conta da demanda do público.
Apesar disso, não entre em pânico. Se você passou as últimas semanas ocupado avaliando a morte da bezerra ou se aquela grana suplementar demorou mais do que o previsto para pingar na conta, ainda dá tempo de se redimir.
Algumas das melhores montagens da programação ainda estão com ingressos à venda. Eles podem ser adquiridos pelo site www.festivaldecuritiba.com.br e na bilheteria física exclusiva no Shopping Mueller (de segunda a sábado, das 10h às 22h, e nos domingos e feriados, das 14h às 20h).
Agora, se você aceita um conselho, é melhor correr. Em poucos dias, tudo pode mudar. E não queremos ninguém disputando acentos às cotoveladas depois que o primeiro sinal soar na plateia, não é mesmo?
Abaixo, algumas das nossas sugestões para os atrasadinhos.
ENCANTADO
As negociações para trazer o mais recente espetáculo de dança de Lia Rodrigues ao Festival foram prolongadas, e só terminaram aos 45 minutos do segundo tempo. Tanto é que nem deu tempo da montagem entrar no guia oficial do evento.
Não tem problema. Depois de estrear no Festival d’Automne de Paris, de fazer temporada em dois teatros da capital francesa e de vencer o Prêmio APCA de Dança de 2022, a peça chega agora à Curitiba, com apresentações nos dias 01 e 02 de abril, às 20h30, no Teatro Guaíra.
Por que ver
A diretora Lia Rodrigues comanda uma das companhias de dança brasileira de maior prestígio no exterior, e já recebeu premiações como a medalha de Chevalier des Arts et Lettre, do governo francês, e o AFIELD Fellowship, pelo trabalho que desenvolve no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. É arte que muda a vida das pessoas, literalmente.
BOM DIA, ETERNIDADE

O enredo conta a história de quatro irmãos que retomam a posse de um terreno de onde foram despejados na juventude. O reencontro, após décadas, mistura os traumas e os sonhos do passado às memórias mais recentes dos quatro num texto, a um só tempo, sensível e contundente, que reflete sobre o direito ao envelhecimento da população negra no Brasil.
A trama é contada com a melhor música feita por artistas negros no Brasil no século 20. No Festival, as sessões acontecem nos dias 30 e 31, respectivamente às 19h e 20h30, no Teatro da Reitoria.
Por que ver
Durante a peça, você poderá desfrutar das performances de quatro veteranos da música. A cantora Maria Inês; o cantor, compositor, contrabaixista e arranjador Luiz Alfredo Xavier; o baterista e cantor Cacau Batera; e o maestro, pianista e regente Roberto Mendes Barbosa dão voz a canções de Djavan, Tim Maia, Jorge Aragão, Jorge Ben Jor, Lupicínio Rodrigues e Johnny Alf, além de temas originais.
IN ON IT

Há 15 anos, quando estreou no Brasil, “In on It” foi um fenômeno. Fez seis meses de apresentações ininterruptas no Rio de Janeiro, antes de rodar o país por três anos consecutivos. Na seara da crítica, venceu o Prêmio Shell, o mais importante do teatro nacional, nas categorias de Melhor Direção, para Enrique Diaz, e de Melhor Ator, para Fernando Eiras.
Na retomada, a partir do ano passado, a paisagem das bilheterias mudou pouco. Os ingressos voltaram a se esgotar no Rio, e sessões extras precisaram ser abertas. Ao mesmo tempo, os convites para apresentações em outras cidades pipocaram. No Festival de Curitiba, as apresentações acontecem nos dias 02 e 03 de abril, às 20h30, no Teatro da Reitoria.
Por que ver
A montagem é rigorosamente a mesma de década e meia atrás, incluindo direção e elenco. Nem sequer as duas cadeiras que compõem o cenário despojado foram trocadas. E o ator Emílio de Mello elogia de maneira absolutamente desbragada a dramaturgia do canadense Daniel MacIvor: “Se você gosta de se surpreender no teatro, vá ver ‘In on it’. É o melhor texto que fiz na vida. É um feitiço”.
TRIVIAL – UM ESPETÁCULO DE B-BOYS

É no mínimo incomum que o breaking – um estilo de performance ligado à cultura hip-hop e que nasceu nas ruas dos bairros marginalizados de Nova York, na década de 70, num contexto de pobreza e violência de gangues – frequente os espaços artísticos tidos como mais nobres, reservados ao teatro e à dança no Brasil. O feito, no entanto, foi alcançado pelo Grupo n Amostra, de Porto Alegre, que faz duas sessões no Festival de Curitiba, nos dias 04 e 05 de abril, às 20h30, no Teatro da Reitoria.
A peça mescla a pegada do breaking com as combinações da dança contemporânea, por meio de uma metodologia desenvolvida pelo próprio diretor, Driko Oliveira.
Por que ver
Indicada em sete categorias no Prêmio Açorianos de Dança em 2023, a montagem conquistou duas distinções, de Melhor Elenco e Melhor Produção, e agora se prepara para o início de uma jornada nacional
A história da encenação de “Trivial”, por si só, honra as origens, e tem a mesma aspereza das nossas calçadas. Antes de tudo acontecer, foi Driko Oliveira quem convidou um grupo de dançarinos que praticava o breaking nas ruas (conhecidos no meio hip-hop como “b-boys”) a se abrigar num espaço que ele mesmo mantém na capital gaúcha. Em Curitiba, a encenação chega com o acréscimo no elenco de uma “b-girl”.
EL DESMONTAJE

Da banda oriental do Rio da Prata vem o espetáculo “El Desmontaje”, um monólogo no qual a autora Jimena Márquez conduz no palco uma experiência teatral híbrida entre documentário e espetáculo.
A peça coloca sobre a mesa uma história não contada, em que o mito grego de Dionísio se mistura com acontecimentos biográficos. As apresentações acontecem nos dias 29 e 30 de março, respectivamente às 20h30 e 19h, na Caixa Cultural.
Por que ver
Quase como uma falsa conferência, Jimena, que é uma das grandes letristas das murgas do Carnaval uruguaio, interage com a plateia com humor enquanto fala sobre o ofício teatral, a partir de suas experiências reais como uma das dramaturgas mais originais da cena sul-americana.