Por Gabriel Costa e Sandro Moser
Não apenas o grande autor que escreveu pelos cotovelos até morrer com jovens 44 anos. Nem só o mitológico intelectual público, o “polaco locopaca” que virou lenda nos circuitos boêmios de Curitiba e do país.
A faceta que mais surpreendeu o elenco de Cabaré Haikai, a peça que é baseada na obra do poeta Paulo Leminski (1944-1989), foi a da prosaica humanidade do pai de família, do compositor e do amigo.
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“Eu acho que a descoberta desse processo é um pouco da humanidade dele. Parece que ele deixou de ser um CNPJ e virou um CPF, sabe?”, disse o ator Kauê Persona, um dos quatro intérpretes em cena na peça que terá três sessões na Mostra Lucia Camargo, duas nesta terça-feira (25): uma às 18h30 e outra as 21h, e uma terceira, no dia 26, às 21h, sempre no Teatro José Maria dos Santos.
“Quando você acessa a intimidade dele, você vê as inseguranças, os sonhos. Porque ele era um sonhador, né? Ele fala numa entrevista, eu acho muito bonita, ele fala: tudo o que eu fiz, todas as línguas que eu aprendi, foi para ser um poeta melhor, para ter mais substância. Então, daí você vê ele inseguro, carente. Acho que é essa a descoberta”, completou o diretor Rodrigo Fornos durante entrevista coletiva na Sala de Imprensa Ney Latorraca, no Hotel Mabu.
Esse Leminski insuspeito começou a aparecer na mesa de pesquisa de dramaturgia quando Fornos convidou a filha do poeta, Estrela Leminski, para participar do processo ao lado do dramaturgo Eduardo Ramos.

“Nós dissecamos a vida do pai dela e o curioso foi, nessa conversa, que a palavra que ficou registrada para a gente, muito marcada, foi urgência. O Paulo tinha a urgência de dizer sempre alguma coisa.”
Ele explica que a peça – que estreou em agosto do ano passado por ocasião do aniversário de 80 anos de Leminski – buscou explorar as dimensões menos óbvias da produção de Leminski: seus escritos em prosa (contos e romance), seus ensaios sobre o papel da arte e sua veia de compositor de música popular.
Cabaré Haikai
Para a atriz Ane Adade, estas conversas sobre a intimidade familiar do grande autor foram “preciosas”. “Descobrimos como ele se comportava em casa, o jeito dele deixar o violão na sala, sempre com as coisas ali do lado, à mão, para a hora que ele precisasse criar e precisasse fazer.”
Segundo ela, essas histórias ajudaram o elenco e a direção a comporem, em conjunto, a dramaturgia, para “tentar compreender um pouco de como funcionava essa cabeça maluca, porque a impressão é que mora muita gente dentro do Leminski, não é uma pessoa só”.