Por Sandoval Matheus
A atriz Renata Sorrah tem mais de cinquenta anos de carreira, uma trajetória consolidada nos palcos e nas telas. No teatro, encenou textos clássicos de William Shakespeare, Anton Tchekhov e Rainer Werner Fassbinder. Na TV, incorporou personagens como Nazaré Tedesco, de “Senhora do Destino”, vilã que permanece na memória nacional, hoje transformada em memes que pipocam no seu celular dia sim e outro também.
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Na 33ª edição do Festival de Curitiba, é a principal estrela de “Ao Vivo [dentro da cabeça de alguém]”, da Companhia Brasileira de Teatro, peça que precisou de menos de 24 horas para esgotar seus ingressos depois que as bilheterias foram abertas, em 06 de fevereiro.
“Eu sempre fiz escolhas bacanas, no teatro e na televisão. Fico muito orgulhosa de mim mesma”, pontuou Renata na manhã desta quinta-feira, 27, durante entrevista coletiva na Sala Ney Latorraca, no Hotel Mabu.
Uma dessas escolhas foi o papel de Heleninha Roitman, a filha alcoólatra da impiedosa Odete Roitman na primeira versão de “Vale Tudo”, em 1998. A novela está às vésperas de estrear um remake, e com uma trama adequada aos novos tempos, de acordo com o que diz o noticiário especializado.

Para Renata, a história precisava mesmo ser atualizada. “Pra mim, ‘Vale Tudo’ foi uma das melhores novelas já feitas. Mas na primeira versão, não tinha nenhuma protagonista negra, agora tem”, exemplificou. “No passado, tinha um casal gay de mulheres [as personagens Laís e Cecília, respectivamente interpretados por Cristina Prochaska e Lala Deheinzelin], mas o público obrigou a matar uma delas no meio da novela. Hoje, isso não cabe mais.”
Na nova versão, a personagem de Heleninha Roitman será interpretada por Paolla Oliveira, que foi assistir a “Ao Vivo” no Rio de Janeiro e aproveitou pra pedir uma espécie de bênção da artista original. “Ela é uma excelente atriz. É diferente de mim, mas isso é bom”, elogiou. “O elenco todo é excelente. É a mesma história, a mesma novela, feita com gente nova e trinta anos depois.”
Samba e Mambo
Nesse ponto da conversa, o diretor de “Ao Vivo”, Marcio Abreu, provocou: “Ela pode ser uma excelente atriz, mas acho que você samba melhor”, brincou, em referência ao fato de Paolla ter sido por anos madrinha de bateria de escolas de samba. Descontraída, Renata replicou lembrando a “cena do mambo”, passagem de “Vale Tudo” em que Heleninha Roitman dança o ritmo caribenho completamente bêbada em uma boate, até se estatelar no cão. “Eu era ótima dando uma mambada”, riu.
Quando a entrevista estava quase terminando, Renata fez questão de contar uma última história, a do primeiro encontro que teve com Marcio Abreu, durante o Festival de Curitiba de 1996. Hoje, os dois capitaneiam a Companhia Brasileira de Teatro há 12 anos, mas naquela época Marcio era um jovem aspirante a ator, e não o notório e respeitado diretor que é hoje. Por isso, ficou responsável por buscar a atriz, então em cartaz com a peça “Mary Stuart”, no aeroporto. “Passei muito mal da van”, rememorou Renata. “Eu acho que você estava nervosa”, completou Marcio. “É, eu estava mesmo.”