Por José Carlos Branco
“But some of us are looking at the stars…”
Message Of Love,
Chrissie Hynde
A primeira vez que eu escutei Pretenders foi em 1981, ano de lançamento do segundo álbum, Pretenders II (1980) produzido por Chris Thomas, com a formação clássica, mesma do espetacular Pretenders I (1979) produzido por ele e Nick Lowe: Hynde (vocais e guitarra base), Martin Chambers (bateria e backing vocals), James Honeyman-Scott (guitarra) e o Pete Farndon (baixo). Esses dois discos viraram uma obsessão na minha vida e me influenciaram pra sempre.
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O primeiro petardo que ouvi com atenção foi Message Of Love que estava tocando no meu radinho laranja a pilha da CCE, com o qual saboreava várias iguarias musicais nas ondas das rádios AM/FM. Era um sofrimento, pois às vezes eu gravava nas fitas K7, mas tinha que torcer pro locutor não estragar a introdução ou o final das músicas!
Porém alguns de nós estão olhando para as estrelas…
Message Of Love me deixou atordoado, eu já era um astrônomo amador e fiquei a ver estrelas sem olhar pro céu…, o que é essa música? A voz da Miss Hynde era como uma sereia me convidando pra me afogar, irresistível; o instrumental, meio punk, meio rock anos 50, isso era demais. Essa música foi muito importante pra mim. Mas entre os dez e onze anos, dependia dos rádios pra escutar as coisas que gostava, e não tinha muito material disponível na era pré-internet do começo dos anos 80, era tudo mais difícil do que se possa imaginar hoje.
Somente em 1984, com 13 anos, economizava uns trocados da mesada e comecei a comprar discos de vinil e fitas K7. Meu pai em 1982 comprou um National 3 em 1, e esse aparelho me mostrou muitas coisas que foram decisivas pro meu arcabouço musical, e que carrego comigo até hoje.
O primeiro LP que comprei foi o Learning To Crawl (1984), e foi arrebatador: “Back on the Chain Gang”, “2000 Miles”, “Middle of the Road”, “Show Me” e “Thin Line Between Love and Hate”, foram os singles de trabalho que tocaram exaustivamente nas rádios, mas ao escutar o LP, a minha favorita sempre foi “My City Was Gone”, pela belíssima e hipnotizante linha de baixo do Tony Butler, que também toca em “Back on the Chain Gang”.
“My City Was Gone” é um lamento muito marcante de Miss Hynde ao voltar pra sua cidade natal, Ohio, depois de morar vários anos na Europa, e se deparar com uma cidade totalmente estranha, sentimento que aprendi a entender com os passar dos anos na minha própria cidade, Curitiba.
Pretenders não é apenas uma banda que fez alguns sucessos nos anos 80, como grande parte das pessoas pensa. Fundada no final dos anos 70, Pretenders sempre lançaram discos em todas as décadas, com diferentes formações na banda de estúdio, e uma certa regularidade nas bandas que iam para os palcos. Hynde e Chambers, os remanescentes da formação clássica, sempre estavam no lineup. A banda é da Chrisssie, ela é a mentora e idealizadora através dos anos, incansável e sempre querendo se reinventar.
História, álbum a álbum
Depois lançaram o Get Close (1986) e Packed (1990), o último com a participação do Johnny Marr (Ths Smiths) nas guitarras de “When Will I See You”, e nos shows do começo dos 90’s, Johnny foi efetivado um dos Pretenders, momentaneamente.
Em 1994 vem o Last of the Independents, que é meu disco favorito, e de extrema importância pra banda, novamente Hynde trás um novo guitarrista o Adam Seymor, músico fantástico, assim como o baixista Andy Hobson. Eu nunca deixei de escutar esse disco e aprendi muito também, é uma baita album. Os Pretenders agora eram uma banda experiente e retomavam seu lugar novamente como uma das bandas mais importantes no cenário dos anos 90.
¡Viva El Amor! (1999) e Loose Screw (2002), foram os belos discos lançados na sequencia, notadamente mais pop, e a formação se estabilizou com Seymor e Hobson.
Break Up The Concrete (2008), é um divisor de águas na minha opinião, Hynde retirou os teclados, e os substituiu por Eric Heywood, que tocava pedal steel guitar e background vocals, e também a entrada do baixista Nick Wilkinson e o guitarrista James Walbourne, que restabeleceu a verve de guitarristas e baixistas lendários da banda. James também é multi-instrumentista.
Mas o mais impressionante nesse disco, é que na bateria Hynde trouxe a lenda Jim Keltner. Essa formação é simplesmente demais, e a sonoridade da banda ficou muito mais acústica e com uma pegada meio folkrock, coisa que Chrissie sempre manteve nos seus discos, mas não tão exarcebada como nesse trabalho. Hynde se reinventa mais uma vez.
Alone (2016) com a produção do Dan Auerbach (guitarrista e vocalista do The Black Keys), manteve a linha rock mais alternativa da banda, uma pedrada esse disco.
Hate For Sale (2020) produzido pelo Stephen Street, é excelente, mas teve um timming infeliz, assim que o disco ficou pronto e a banda estava preparada para começar a nova tourné, começou a pandemia de Covid19, e os Pretenders tiveram que se recolher.

Relentless (2023) com a experiente produção de David Wrench, ganhou ótimas resenhas da crítica especializada, um disco denso, forte e com os riffs avassaladores de James Walbourne, que tomou conta da banda definitivamente. Kris Sonne na bateria, Dave Page no baixo, James Walbourne nas guitarras e Miss Hynde nos vocais, estão desde 2023 numa mega tourné pelo mundo, tocando em festivais, arenas, teatros e até pubs. Hynde está plena.
Essa turnê no Brasil em maio de 2025 é uma oportunidade fantástica de testemunhar essa lenda do rock chamada Christine Ellen Hynde, que também lançou o Stockholm (2014), produzido pelos suecos Björn Daniel e Arne Yttling, que trabalharam com Primal Scream, Franz Ferdinand, Sahara Hotnights, Anna Ternheim, entre outros, e inaugurou sua carreira solo.
Logo após ela lança Adding The Blue: Paintings by Chrissie Hynde, um livro onde mostra um outro lado artístico, a pintora, do qual sai a capa do excelente Valve Bone Woe (2019), e também as capas dos EPs, um baita disco de jazz produzido por Marius de Vries e Eldad Guetta.
Como não amar Chrisse Hynde?
Foto: José Carlos BrancoEu sempre amei vozes femininas, no jazz, minha cantora favorita é a Julie London, sempre foi ela, e no livro Reckless: My Life as a Pretender (2015), Hynde nos conta que uma das cantoras que mais influenciou ela a cantar foi justamente a Julie… se eu já amava a Chrisse, passei a amar mais ainda, isso sem falar que ela é uma ferrenha defensora dos direitos animais, foi presa diversas vezes nos protestos que organizava e participava.
Aliás, me tornei vegano, por influência dela, e de tantos outras celebridades como David Bowie, Paul McCartney, Nick Cave, George Harrison, e tantos outros. Eu demorei um pouco pra entender, mas o que nos define como seres humanos é nossa capacidade de empatia com nossos semelhantes e com todas as outras espécies, também, um recado que Miss Hynde sempre deixou evidente.
Tudo isso para dizer que o Pretenders vem ao Brasil neste mês de maio para uma sequência de shows que começa no C6 Fest, em São Paulo, e inclui apresentações em Porto Alegre, no Auditório Araújo Vianna (dia 18); Curitiba, no Teatro Positivo (dia 20); e Brasília, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães (dia 22).
Os ingressos estão disponíveis nos respectivos links acima, e encerro dizendo que assistir a esse show é uma bênção, uma comunhão e uma grande honra.
José Carlos Branco é geólogo, músico e fotógrafo.
THE PRETENDERS EM CURITIBA
Quando: 20 de maio de 2025 (terça-feira)
Onde: Teatro Positivo (Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300)
Horário: abertura da casa às 19h30 e show às 20h45
Ingressos: os ingressos variam de R$ 350 a R$ 1.960,00 de acordo com o setor e modalidade e estão a venda no site DISK INGRESSOS