Neste 5 de maio, celebram-se os 160 anos de nascimento de uma das mais notáveis personalidades nacionais: Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. Nascido em 1865, na atual cidade de Santo Antônio do Leverger (MT), Rondon construiu uma trajetória marcada por ciência, respeito à diversidade e integração pacífica entre culturas.
+ Leia Também + Lendas do Samba brasileiro – Jamelão
Foi o primeiro descendente de indígenas a alcançar o posto mais alto do Exército Brasileiro e é o único militar reconhecido como Patrono das Comunicações e da Proteção aos Índios.
De órfão a Marechal
Órfão de pai e mãe ainda na infância, Rondon foi criado pelo avô e pelo tio até ingressar no Exército aos 16 anos. Formou-se na Escola Militar do Rio de Janeiro, onde obteve o bacharelado em Ciências Físicas e Naturais. No fim do Império, apoiou os movimentos abolicionistas e republicanos e participou do golpe que derrubou Dom Pedro II.

O Brasil pelas linhas do telégrafo
Um dos capítulos mais marcantes da trajetória de Rondon foi sua liderança na expansão das linhas telegráficas. Como chefe da Comissão Construtora de Linhas Telegráficas Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas, percorreu regiões inexploradas da Amazônia Legal enfrentando obstáculos geográficos e climáticos extremos.
“O telégrafo era, na época, o que hoje equivale à internet: uma ferramenta de integração, comunicação e soberania nacional”, escreve o escritor Maurício Melo de Meneses, autor do livro Rondon – O Marechal da paz.
Rondon via esse avanço não apenas como um projeto militar ou de infraestrutura, mas como um elo civilizatório. Sua postura se destacava pela diplomacia. Diante de comunidades indígenas, optava sempre pelo contato pacífico. Seu lema — “Morrer se for preciso, matar nunca” — tornou-se símbolo de sua ética humanista.
Protetor dos povos indígenas
Durante suas expedições, Rondon estabeleceu contato com diversas etnias, como os Nambiquara. Em uma dessas ocasiões, ao ser atingido por uma flecha, ordenou que seus homens não revidassem. A ação reafirmava sua defesa da paz. Em 1910, fundou o Serviço de Proteção aos Índios (SPI), que mais tarde deu origem à Funai. Segundo Maurício Melo de Meneses, “seu legado ressoa em áreas como direitos humanos, desenvolvimento sustentável e ciência”.
Rondon também esteve envolvido na criação do Parque Nacional do Xingu, marco na proteção de territórios indígenas. Sua compreensão do meio ambiente era profundamente integrada ao respeito aos povos originários e aos ecossistemas. “Desenvolvimento, para Rondon, só poderia ser sustentável se respeitasse a natureza e as culturas locais”, afirma o pesquisador.

Ciência e cooperação internacional
Rondon participou da célebre Expedição Roosevelt-Rondon (1913-1914), que desbravou e mapeou o então chamado Rio da Dúvida — hoje Rio Roosevelt. A missão, realizada ao lado do ex-presidente dos EUA Theodore Roosevelt, consolidou a imagem de Rondon como articulador entre ciência e exploração. Ele também colaborou com naturalistas e antropólogos, ampliando o conhecimento sobre a biodiversidade e as culturas do interior do país.
Um nome que permanece
Rondon morreu em 1958, aos 92 anos, no Rio de Janeiro. Um ano antes, fora indicado ao Prêmio Nobel da Paz. Seu nome batiza o estado de Rondônia, rodovias, ruas e escolas em todo o país. Também estampou cédulas de mil cruzeiros nos anos 1990. Celebrar seus 160 anos é, como destaca Maurício Melo de Meneses, “reafirmar o compromisso com um Brasil mais justo, unido e consciente de suas raízes”.
Filme de expedição de 1914 preservou perdas do Museu Nacional
Um filme sobre a histórica expedição realizada em 1914 pelo marechal Cândido Rondon e o ex-presidente norte-americano Theodore Roosevelt ajudou a preservar imagens que pertenciam ao acervo do Museu Nacional. Os originais dessas imagens, que são reproduzidas na obra, foram perdidos no incêndio ocorrido em setembro de 2018.
Intitulada O Rio da Dúvida, a obra, dirigida por Joel Pizzini, mescla documentário e ficção, usando atores para refazer o trajeto realizado há mais de um século nas regiões do Pantanal e da Floresta Amazônica. Na época, um projeto de pesquisa sobre a fauna brasileira vinha sendo preparado por Theodore Roosevelt, que havia presidido os Estados Unidos de 1901 a 1909 e vencido o Prêmio Nobel da Paz em 1906.
O filme não se resume a recontar a história da empreitada e sua narrativa provoca um trânsito temporal. “Os atores representarão personagens de época, mas irão encontrar o Rio da Dúvida e seus arredores tal como eles se apresentam hoje. Além disso, eles irão interagir com personagens das atualidades, como as netas de Rondon. Então é um filme carregado de subjetividade e que promove uma ressignificação da expedição para se refletir sobre o nosso momento. É uma forma de revisitar com olhares de hoje o projeto humanista de Rondon, sua preocupação com os índios, com o ambiente”, disse Joel Pizzini à Agencia Brasil.