O título da faixa já sugere: Maria Sem Vergonha. Foi assim que Vanessa da Mata escolheu o abre alas de seu novo disco, Todas Elas, lançado hoje (12) nas plataformas digitais. A música, que é um cartão de visitas feminista contra o sistema machista e opressor, propõe a mensagem da artista sobre o tema que tecnicamente vem discorrido na sequência do álbum. Porém, em partes.
+LEIA TAMBÉM+ Uma noite de alquimias musicais no Circo Voador
A canção Esperança, por exemplo, primeiro single lançado de Todas Elas, fala mais sobre dor e renascimento mediante a um “Ele”, que trouxe esperança através de uma luz, do que algum tema feminista propriamente dito. Inclusive, o “Ele” em questão fica no imaginário de quem ouve, podendo ser entendido até mesmo como uma figura religiosa. E se for isso mesmo, a sequência com Eu te Apoio em Sua Fé chega até a ficar coerente, já que Vanessa explora na música as religiões de matriz africana, o nosso belo e amplo sincretismo que pode conter os “Eles” e os “ELAS”.
A sequência com Troco Tudo traz uma pseudo virada no disco falando de amor com um bela parceria com Jota. Pê, mas volta um pouco atrás em É por isso que eu Danço, mostrando a força de uma mulher independente e que mostra a força de um dia-a-dia avassalador. Mais um ponto feminista.
Entretanto, mesmo com as idas e vindas que a artista procura dizer ao longo do percurso, o ponto alto, principalmente sonoro, começa mesmo a partir de Um Passeio Com Robert Glasper pelo Brasil. É aí que ela deixa um pouco de lado o mais do mesmo que vem carregando ao longo de sua jornada e aposta em novas vertentes rítmicas. Robert Glasper, pianista e compositor norte-americano, participa da faixa investindo no jazz meio bossa nova. A partir daí, Todas Elas ganha uma espécie de novo sentido.
É o caso de Quem Mandou, um sambinha leve e clássico; Ciranda, que mergulha nos ritmos afro; a bela Sobre as Coisas Mais difíceis de ouvir e Demorou, com a participação certeira de João Gomes, que fecha o álbum no ápice e nos faz pensar que ela poderia ter explorado estes ritmos em todo o disco. Mas tá tudo bem.
Por fim, Todas Elas não é algo que vai entrar na categoria de lançamentos imperdíveis, mas dá um claro recado ao que se propõe. Ouça.
