Por Flávio Jacobsen
Marcela Bettega é antes de tudo poeta e fotógrafa.
Produtora cultural há mais de vinte anos, foi diretora de Cultura na cidade de Morretes-PR. Licenciou-se em Artes Visuais e Geografia. É doutoranda em Geografia pela UEPG. Desde 2015 vem trabalhando com questões relacionadas ao Patrimônio Cultural.
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Sua obra — tanto artística quanto acadêmica — documenta afetos, caminhos e lugares. Ela busca de certo modo testemunhar o tempo em que vive, e os vestígios deixados pelo tempo passado.
Bettega está lançando o projeto “Caminho da Cantaria nos Campos Gerais”, que vai mapear, identificar e inventariar a arte da cantaria em pontos específicos da região, com foco específico na Igreja de Santo Antônio na Lapa, a ponte sobre o Rio do Papagaios em Palmeira, a Ponte Irmã da ponte do Rio dos Papagaios no centro de Palmeira, e o conjunto de Arte Cemiterial em Castro.
Tais exemplares trazem uma diversidade de uso, de técnicas e de matérias primas que vão permitir um entendimento amplo sobre a cantaria.
O que é a cantaria?
A cantaria é uma técnica de trabalho com pedra, que envolve o corte, modelagem e acabamento de pedras para uso em construções, monumentos, esculturas e outros objetos. A cantaria pode ser utilizada para criar elementos decorativos, estruturais ou funcionais, como colunas, arcos, janelas, portas, entre outros.
Trata-se uma técnica tradicional que exige habilidade e conhecimento específico, e é frequentemente utilizada em projetos de arquitetura, restauração e conservação de patrimônios históricos.
No contexto do projeto “O Caminho da Cantaria nos Campos Gerais”, a cantaria se refere à técnica e à arte de trabalhar com pedra na região dos Campos Gerais do Paraná, Brasil, e envolve o estudo de técnicas tradicionais, materiais, suas ferramentas e alusão aos artífices locais que ainda dominam tal processo.
Democratizando o acesso à informação e o entendimento do patrimônio
“O projeto pretende contribuir para a sistematização, organização e divulgação de um conhecimento aprofundado e refinado sobre o patrimônio cultural”, revela Marcela.
A pesquisa estende seus tentáculos para a área socioeconômica. Marcela acredita que “assim, podemos apresentar possibilidades tanto para o turismo e geoturismo, quanto para a educação patrimonial nesses sítios, pois eles mesmos podem se tornar centros de divulgação, museus a céu aberto, de modo a aproximar o patrimônio cultural e geológico da comunidade em geral, quanto para torná-los atrativos para a visita de moradores e turistas como um todo”.
Há pelo menos cinco anos Marcela Bettega vem pesquisando sobre o patrimônio cultural paranaense, em especial o patrimônio edificado no litoral. Apesar de certa produção acadêmica sobre o tema, há alguma dificuldade de encontrar materiais que se debrucem sobre bens específicos, ou sobre tais técnicas construtivas. É o caso da técnica da cantaria, que ela identificou existir de forma relevante nos Campos Gerais, trazendo a lente de sua empreitada para o coração do Paraná.
Cidades mineiras como Ouro Preto, Mariana e Tiradentes, ou Paraty no Rio de Janeiro, possuem publicações diversas sobre seu patrimônio edificado, tanto em relação ao conjunto do centro histórico, quanto em relação às edificações específicas, muitas destas, inclusive, disponíveis gratuitamente pelo site do IPHAN.
O Paraná carece de tal material elucidativo acerca de seu patrimônio. Bettega, através de sua pesquisa, vai inventariar e identificar cada ponto significativo que tenha a cantaria como técnica utilizada. O objetivo é obter o reconhecimento e a valorização dos potenciais dos territórios, o que resultará também em premissa para um desenvolvimento sustentável.
Inventário digital e realização de oficinas
Além da identificação de patrimônio edificado (em sua totalidade secular) via mapeamento e inventário — que estará registrado em um site, com acesso ao público —, especificamente nas cidades de Castro, Palmeira e Lapa, é parte integrante do projeto a realização de oficinas voltadas a gestores públicos, professores, pesquisadores e interessados em geral sobre os desdobramentos pelos quais a evidência desse patrimônio pode conduzir ao desenvolvimento da região.
O objetivo geral do projeto “O Caminho da Cantaria nos Campos Gerais” é registrar e difundir a trajetória da pesquisa de Marcela Bettega como um todo, suas peculiaridades, os métodos para a construção e prática de preservação (de patrimônio físico e memória histórica e afetiva), bem como sua divulgação para o geoturismo, geopatrimônio e o patrimônio cultural da localidade.
O projeto conta com patrocínio da Copel e apoio institucional do CPC e Iphan.