O Instituto Moreira Salles (IMS) acaba de ampliar o acesso ao acervo da música brasileira com duas novidades de peso. O site Discografia Brasileira, mantido pela instituição desde 2019, passou a oferecer o download gratuito de 5.900 gravações digitalizadas. Trata-se de registros históricos já em domínio público, agora acessíveis a qualquer visitante.
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Além das faixas disponíveis, o IMS lançou o primeiro volume da série de e-books Discografia Brasileira – Os pioneiros, coordenada pelo pesquisador Sandor Buys. O projeto tem como foco o período inicial da indústria fonográfica nacional, conhecido como fase mecânica (1902-1927), quando as gravações eram captadas por um cone acústico e gravadas diretamente nas matrizes físicas.
A coleção completa, prevista para os próximos dez anos, contará com sete volumes, todos acessíveis gratuitamente no site. Os leitores podem consultar os livros on-line ou fazer o download integral.
O Discografia Brasileira tem como objetivo mapear e disponibilizar toda a produção fonográfica nacional registrada em discos de 78 rotações, entre 1902 e 1964, quando o formato foi substituído pelos LPs de 33 rotações. Estima-se que esse universo reúna cerca de 64 mil fonogramas, dos quais 47 mil já contam com arquivos de áudio digitalizados.
As músicas que estão liberadas para download cumprem dois critérios: a gravação deve ter sido lançada há mais de 70 anos e seus compositores precisam estar mortos há pelo menos 70 anos. Dessa forma, estão em domínio público autores como Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Anacleto de Medeiros, João Pernambuco, Sinhô, Noel Rosa, Custódio Mesquita e Francisco Alves.
Em casos de autoria compartilhada, o prazo passa a valer a partir da morte do último compositor. É o caso, por exemplo, de Pastorinhas (1937), de Noel Rosa e Braguinha. Embora Noel tenha falecido em 1937, Braguinha morreu apenas em 2006. Assim, a obra só entrará em domínio público em 2077.
Para facilitar a busca, o site marca com o selo “DP” (Domínio Público) as faixas já liberadas. Uma busca avançada, disponível no botão “+” ao lado da lupa de pesquisa, permite filtrar os fonogramas disponíveis para download. Mesmo com mais de 63 mil fonogramas catalogados, parte deles ainda aguarda identificação e digitalização.
Segundo Bia Paes Leme, coordenadora de música do IMS, o trabalho de ampliação do acervo é constante. “É um álbum de figurinhas. Sabemos que os discos foram lançados, temos o registro, mas muitos fonogramas ainda precisam ser digitalizados. Neste momento, temos 47.016 áudios disponíveis”, explica. Parte desse material vem da coleção Leon Barg, maior acervo privado de discos em 78 rotações do Brasil, adquirida pelo IMS em 2017.
A base inicial de quase 6 mil fonogramas em domínio público deverá crescer ano a ano. Grande parte das gravações da fase mecânica (1902-1927) já foi liberada, assim como algumas dos anos 1930 e 1940. Artistas de grande popularidade, como Francisco Alves e Noel Rosa, já têm boa parte de suas obras disponíveis.
“O objetivo é colocar tudo no site, de forma organizada, para que pesquisadores e o público possam conhecer as origens da música brasileira. É como descobrir o nascente de um rio”, define Bia Paes Leme.
No campo editorial, a série Discografia Brasileira – Os pioneiros busca organizar, de forma detalhada, os registros da fase mecânica. Cada volume reúne textos de especialistas, material iconográfico e catálogos comentados dos discos produzidos, com informações de intérpretes, compositores e inscrições dos selos.
Algumas listas de fonogramas disponíveis no Discografia Brasileira:
O primeiro volume, já disponível, aborda os Discos Phoenix (1914-1923). Ainda em 2025, será lançado o segundo, dedicado à Casa Faulhaber. Depois virão os registros dos selos Brazil, Popular, Jurity e Imperador; em seguida, o volume sobre a Casa A Electrica. O quinto trará a produção da Casa Edison, pioneira da indústria fonográfica brasileira, com 5.800 fonogramas – mais da metade dos cerca de 10 mil estimados na fase mecânica. Os dois volumes finais serão dedicados aos selos americanos Victor e Columbia.
A ordem de publicação não é cronológica. A previsão é concluir a coleção em dez anos.