Por Gabriel Costa, especial para o Fringe
Assisti à peça Cenas da Menopausa, estrelada por Claudia Raia e dirigida por Jarbas Homem de Mello — que também atua no espetáculo — na última sexta-feira (6), ao lado da minha avó, de 82 anos no Teatro Guaíra. Desde então, me pego refletindo sobre o que vi sempre que tenho um tempo livre. A peça é daquelas obras que permanecem com a gente.
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Talvez por ignorância, ou pela falta de conversa sobre o assunto, eu nunca soube muito bem o que era a menopausa na vida de uma mulher. Sabia o suficiente para passar em uma prova de ciências do ensino médio, mas não fazia ideia da complexidade dos efeitos que o espetáculo apresenta com tanta sensibilidade — e humor.
Cenas da Menopausa é baseada na vivência de Claudia Raia sobre o tema. Ela interpreta uma série de personagens, cada uma enfrentando situações distintas — da perda de libido à insônia, passando por crises de identidade e autoestima.
O casal, com atuações versáteis, eleva a peça ao patamar de uma comédia de alto nível. Jarbas brilha ao interpretar figuras como uma freira e uma senhora redescobrindo sua sexualidade. Em determinado momento, ele até canta — com uma qualidade vocal impressionante.
Enquanto assistia ao espetáculo, confesso que não pude deixar de relacionar as situações mostradas por Claudia Raia com momentos que observei a vida inteira nas mulheres da minha família. Muitas vezes tomei por esquisitices ou exageros as alterações de humor, os calorões repentinos e as noites mal dormidas que eram, na verdade, sintomas inapeláveis da menopausa.
Logo no começo, um letreiro vermelho com a palavra “menopausa” desce do teto, anunciando o tema. Em seguida, Claudia entra cantando sobre o assunto, numa entrada triunfal, em meio a luzes e um cenário vibrante, com cores quentes que dão o tom do espetáculo.
Em alguns momentos, Claudia e Jarbas aparecem em cena como eles mesmos. Conversam com o público sobre o relacionamento que mantêm fora do palco e anunciam as cenas que virão a seguir. Poderia soar como um recurso clichê, mas acaba funcionando bem — especialmente por se tratar de duas figuras conhecidas nacionalmente, com carisma e entrosamento de sobra.
Ao final, Claudia convida as mulheres da plateia a compartilharem suas próprias experiências, no momento mais comovente da noite. Neste mundo machista e misógino, é preciso coragem para subir ao palco e escancarar um processo biológico tão estigmatizado. Ainda bem que existem Claudias Raias por aí.
Ao chegar em casa, recebi a seguinte pergunta da minha mãe:
— Agora você me entende um pouco melhor, filho?
Na hora, não soube o que responder. Mas agora, após alguns dias de reflexão, posso dizer com certeza:
Sim, mãe. E agradeça à Claudia Raia.