O premiado autor francês Édouard Louis, um dos maiores nomes da literatura contemporânea europeia, ganha pela primeira vez uma adaptação para os palcos brasileiros. A estreia de “EDDY – violência & metamorfose” marca os dez anos da companhia POLIFÔNICA, e acontece no dia 19 de junho no Mezanino do Sesc Copacabana, com sessões às quartas e quintas-feiras, até 11 de julho.
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O projeto tem direção e dramaturgia de Luiz Felipe Reis, em parceria com o cineasta Marcelo Grabowsky. O ator João Côrtes interpreta Édouard Louis, ao lado de Julia Lund e Igor Fortunato. A montagem foi construída a partir de três livros do autor: O fim de Eddy, História da violência e Mudar: método. A proposta original, que costura as três obras em uma só encenação, recebeu o aval direto do escritor. “É a primeira vez que isso será feito no mundo, então, sim, façam isso”, incentivou Louis, que será representado por Côrtes em cena.
A história parte de um episódio real vivido por Édouard, quando sofreu um estupro em Paris, em 2012. A partir dessa experiência, a peça mergulha em uma investigação sobre as estruturas sociais que normalizam e reproduzem diferentes formas de violência — de classe, gênero, sexual, racial e política. A encenação alterna entre momentos de relato, encenação direta e fragmentos poéticos para explorar os efeitos da violência e a potência da transformação.
Segundo Luiz Felipe Reis, diretor e cofundador da OLIFÔNICA, a peça aprofunda a pesquisa da companhia sobre as forças de dominação masculina e a crise civilizatória contemporânea. “Violência e metamorfose são temas profundamente conectados. As forças de violência convocam também as forças de transformação. Investigar a violência é buscar formas de responder a ela e transformá-la”, afirma.
Para a atriz Julia Lund, coidealizadora do projeto, a dramaturgia tem forte ressonância no Brasil. “Os livros do Édouard foram escritos em um contexto francês, mas poderiam ter sido vividos aqui. Há sempre uma força violenta que ameaça o feminino, em qualquer corpo. Essa adaptação convida o público brasileiro a refletir sobre a naturalização da violência em nossa sociedade”, diz.
João Côrtes interpreta o autor em um registro que alterna entre alter ego e biografia. “Como homem gay, também conheço esse lugar de lidar com a insegurança, a autoaceitação e o desejo de ser amado. O texto do Édouard é poderoso, e atuar nele é uma enorme responsabilidade”, afirma.
Já Igor Fortunato vive Redá, o jovem argelino que se torna agressor de Édouard. O ator, nordestino, propõe uma reflexão sobre a posição do oprimido que passa a reproduzir a violência. “É um personagem ambíguo, marcado pelas violências estruturais que também o atravessam. É um papel que exige um mergulho profundo na origem da brutalidade e da despersonalização”, comenta.
A peça também dá continuidade à pesquisa estética da OLIFÔNICA, que há uma década propõe experimentações cênicas interdisciplinares, com ênfase na noção de polifonia e no cruzamento entre teatro, literatura e cinema. Desde 2015, com o espetáculo Estamos indo embora…, a companhia acumula indicações aos prêmios Shell e APTR, e se consolida como um dos coletivos mais inovadores da cena carioca.
A montagem anterior do grupo, Deserto (2024), inspirada na obra de Roberto Bolaño, segue em cartaz no Teatro Poeira, com temporada prorrogada até agosto. Já Vista (2023), estrelado por Julia Lund, foi premiado no Deus Ateu de Teatro e Artes. Os espetáculos anteriores incluem ainda Galáxias (2018), Tudo que brilha no escuro (2020) e Amor em Dois Atos (2016).
EDDY – violência & metamorfose
Onde: Sesc Copacabana – Mezanino (Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana, Rio de Janeiro – RJ)
Quando: de 19 de junho a 11 de julho de 2025, quartas e quintas às 20h
Quanto: R$ 10 (credencial plena), R$ 15 (meia) e R$ 30 (inteira)