Tereza de Benguela foi uma mulher negra refugiada da escravidão que se tornou líder do quilombo Quariterê, localizado no Vale do Guaporé, fronteira entre o Brasil e a Bolívia. Ela organizou a comunidade de forma exemplar, estruturando a economia, a agricultura e a educação, e provando a intelectualidade e a resiliência do corpo negro.
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Sua história é a inspiração para a canção “Tereza”, o primeiro single lançado pela cantora e fotógrafa Marcela, e que integrará o aguardado EP Amazônia Negra. Com lançamento patrocinado pela Natura Musical, a faixa homenageia, unindo samba e soul, a força e o legado da resistência negra na Amazônia.
O lançamento da faixa é acompanhado de um videoclipe gravado no Vale do Guaporé, no quilombo do Forte Príncipe da Beira, em Costa Marques, na divisa com a Bolívia. Já o EP completo, Amazônia Negra, será lançado em novembro.
“Cantar a Amazônia Negra significa tocar em muitas histórias de invisibilidades, como a de Tereza de Benguela, uma memória vívida da região amazônica, tão pouco rememorada. A escravidão, a seringa, o garimpo, o pasto esconderam e ainda escondem o protagonismo de muitos legados negros que poderão ganhar força com o canto.”
A faixa carrega forte sensação de leveza e imponência, evocando a força e a ginga das mulheres negras. Marcela utiliza-se de sua voz para transmitir a história de empoderamento e resistência de Tereza de Benguela.
O quilombo do Quariterê não era visto somente como um local de agrupamento de pessoas refugiadas, mas como uma comunidade politicamente estruturada, gerida em parlamentos, e com preocupações militares e econômicas.
Por isso, gerou o foco da então Coroa portuguesa, que, em 1770, capturou, prendeu e matou Tereza.
A liderança de Benguela trouxe não apenas os negros, mas também indígenas à região, unindo diferentes povos em resistência. Tereza foi propagada como louca por seus opositores portugueses e Rainha por todo o Vale do Guaporé.
Naquela época, Tereza lutou pela liberdade do seu povo e pela preservação da cultura, mantendo a segurança do quilombo. Além de ser hábil política e diplomaticamente, negociava com autoridades coloniais para garantir a paz e a estabilidade da comunidade.
A principal mensagem da música é a visibilização e valorização da história negra na Amazônia. Por meio dela, busca-se transmitir a sensação de uma viagem ao passado, destacando a importância da memória e da presença negra na formação da identidade brasileira. O clipe, com direção criativa também de Marcela Bonfim, interpretação de Tereza de Benguela e produção de Agrael de Jesus, oferece uma imersão visual na história e cultura do quilombo.
“Tereza é uma história que me deu força ao reconhecer a presença de uma economista, diplomata e líder na Amazônia — em pleno período escravocrata, enfrentando uma Coroa mergulhada em ignorâncias. Seu brilhantismo causou tanto incômodo que ela se tornou alvo. E disso nasce um legado: o da intelectualidade de uma mulher que foi Rainha, referência e inspiração.”
Amazônia Negra surgiu a partir das experiências visuais de Marcela Bonfim na Amazônia — por meio do “(Re)conhecendo a Amazônia Negra: povos, costumes e influências negras na floresta” — na qual a artista capturou imagens e confrontou as narrativas históricas que invisibilizam a presença negra na região. Valendo-se da ancestralidade e da pluralidade afrodiaspórica, Marcela transforma essas imagens em música, trazendo à tona as histórias e modos de vida desses povos.