Se estivesse vivo, Aldo Baldin completaria 80 anos em 2025. Mesmo com uma trajetória internacional marcante e mais de cem discos gravados, o tenor catarinense é quase um desconhecido no Brasil. Essa lacuna começa a ser preenchida com a estreia do documentário Aldo Baldin – Uma vida pela música, dirigido por Yves Goulart, que chega aos cinemas brasileiros no dia 31 de julho, com distribuição da Bretz Filmes.
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O filme é resultado de 14 anos de pesquisa, gravações e montagem. Premiado em 24 festivais no Brasil e no exterior, o longa percorre a trajetória do artista desde a infância em Urussanga (SC) até os palcos mais prestigiados da Europa. Baldin fez carreira na Alemanha, onde firmou parceria com nomes como Helmuth Rilling, Neville Marriner e Dietrich Fischer-Dieskau. Em 1981, venceu o Grammy pela interpretação da obra A Criação, de Haydn, ao lado de Marriner e dos solistas Edith Mathis e Fischer-Dieskau.
A produção traz depoimentos emocionantes de artistas como Maria Lucia Godoy, Lilian Barretto, Edino Krieger, Fernando Portari e do maestro Isaac Karabtchevsky. Eles ajudam a construir o retrato de um homem generoso, discreto e dono de uma inteligência musical rara. A trilha sonora original foi composta por Irene Flesch Baldin, viúva do tenor.
Para a violinista, que vive na Alemanha e participou de toda a pesquisa do filme, a importância de Baldin vai além da técnica: “Ele cantava com alma e com uma inteligência musical que parecia ter sido dada por Deus”, diz Irene. “Era um homem simples que cantava Mozart, Bach e Rossini com a mesma fluência com que falava da sua terra natal. O Brasil precisa conhecer Aldo Baldin.”
Redescoberta tardia
A descoberta do personagem por Yves Goulart aconteceu por acaso. Em 2009, ao folhear um LP de Villa-Lobos em Nova York, o cineasta reconheceu a igreja matriz de Urussanga na capa. Intrigado, começou a buscar informações sobre Baldin. “Como a igreja da minha infância foi parar num disco de música erudita? Quem era esse tenor?” A pergunta deu início a um mergulho que resultou em um resgate histórico e artístico de impacto.
Goulart localizou a viúva do cantor, recuperou fitas, álbuns, documentos e reconstruiu a jornada de um artista que, mesmo ausente da memória nacional, brilhou em festivais e universidades europeias, tornando-se professor catedrático e referência no canto lírico.
O diretor define o documentário como uma missão de reparação: “Quero que o público brasileiro descubra esse talento imenso, que é parte do nosso patrimônio artístico. Baldin representa o lado criativo e ético da alma brasileira. O filme é, antes de tudo, uma celebração.”
Reconhecimento internacional
Antes de estrear comercialmente, o filme percorreu festivais em Nova York, Berlim, Roma, São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis. Em Roma, conquistou os prêmios de Melhor Documentário e Melhor Direção no Festival Internacional Movie Awards. Também recebeu o troféu de Melhor Documentário no Berlin Motion Picture Awards.
A Goulart Filmes, produtora do longa, é conhecida por obras autorais que unem cinema e poesia. Criada em 2003, tem no currículo títulos como Além da Luz (2010) e Francisco de Assis – uma lição de vida (2014). O próprio Goulart atua em todas as etapas do processo — da pesquisa à edição.
“Os filmes de Yves têm uma assinatura artesanal e emocional. São narrativas que tocam o que é humano”, define a cantora Maria Lucia Godoy, que participou da produção. Ela sintetiza o que foi cantar com Baldin: “A voz dele era de mel, escorria naturalmente, como a água de uma fonte.”
Aldo Baldin – Uma vida pela música
Onde: cinemas de todo o país
Quando: a partir de 31 de julho
Quanto: ingressos conforme a rede exibidora