Quarenta anos após o nascimento do Hip-Hop nas ruas de São Paulo, sua batida original ressurge no Sesc 24 de Maio como memória viva e afirmação cultural. A exposição HIP-HOP 80’sp – São Paulo na Onda do Break, aberta de 24 de julho de 2025 a 29 de março de 2026, convida o público para uma jornada sensorial e histórica que devolve à cidade gestos, sons e imagens de uma geração que criou com poucos recursos e máxima potência.
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Com mais de 3 mil peças reunidas de forma inédita, a mostra reconstrói a revolução urbana que transformou pontos como a Estação São Bento, a Praça Roosevelt, o Parque Ibirapuera e a famosa esquina da Rua 24 de Maio com a Dom José de Barros — onde hoje está o Sesc 24 de Maio — em palcos de criação, resistência e celebração.

A curadoria coletiva inclui nomes históricos da cultura Hip-Hop, como OSGEMEOS, Rooneyoyo O Guardião, KL Jay (DJ dos Racionais MC’s), Thaíde, as pioneiras Sharylaine e Rose MC e o b-boy ALAM Beat. “Fizemos um recorte específico, um resgate histórico em prol da preservação da memória”, afirmam os curadores. “A ênfase está na importância de mostrar às novas gerações como a cultura Hip-Hop surgiu e se enraizou em São Paulo.”
Segundo Luiz Galina, diretor do Sesc São Paulo, a proposta reafirma o compromisso da instituição com a valorização de matrizes culturais diversas: “Caracterizadas pela combinação entre contestação e inventividade, essas expressões trazem em suas transgressões estéticas a semente de transformações sociais necessárias.”
3 mil peças
As mais de 3 mil peças apresentadas vêm de coleções pessoais, como as de Nelson Triunfo, Billy, Pierre, Ricardinho e Renilson do Electric Boogies, além de acervos históricos nacionais e internacionais. A exposição inclui registros inéditos da fotógrafa Martha Cooper, que documentou o nascimento do Hip-Hop em Nova York, o documentário Style Wars (1983) de Henry Chalfant, e gravações de Michael Holman, que imortalizou as primeiras batalhas de break.

Equipamentos de som originais, flyers de bailes black, roupas de época e colaborações do Museum of Graffiti (Miami) completam o mosaico de relíquias de uma era em que o improviso foi linguagem criativa e forma de expressão.
A mostra destaca também uma forte dimensão sensorial. Uma área central recria a energia da Estação São Bento dos anos 1980. Um vagão de metrô cenográfico abriga oficinas de DJ, Hip-Hop, graffiti, dança e rodas de conversa. O espaço promove a continuidade da cultura de rua como lugar de aprendizado e troca entre gerações.
Outros destaques são um setup de DJ de cristal com equipamentos autênticos dos anos 1980, um piano cinético que responde aos movimentos de b-boys e b-girls, e projeções de filmes selecionados pelos curadores. Entre eles, trechos de Flashdance (1983), Beat Street (1984) e Breakin’ (1984), que ajudaram a difundir a cultura nas telas. Também são relembrados clássicos como Krush Groove (1985), popularizados por videoclipes, matérias jornalísticas e fitas VHS.
Linha do tempo
Apesar de reconhecer a dimensão política do movimento, a exposição enfatiza seu aspecto lúdico, coletivo e espontâneo, que surgiu como resposta à opressão nos últimos anos da ditadura militar. “Fizemos Hip-Hop sem saber que fazíamos Hip-Hop. Era expressão de liberdade, resistência, diversão e sobrevivência”, diz Gustavo Pandolfo, d’OSGEMEOS. Rooneyoyo O Guardião completa: “Essa cultura nos salvou. Criou um lugar para a gente sonhar.”

A mostra valoriza também o papel fundamental das mulheres na cultura Hip-Hop. Entre as curadoras estão Sharylaine e Rose MC, pioneiras na cena paulistana. Fundadora do grupo RAP Girls, Sharylaine afirma: “O Hip-Hop é a minha religião. A rima é minha oração.” Já Rose MC se define como “uma das pioneiras no Hip-Hop, B.Girl, rapper e mulher da cultura de rua”, representando a força feminina que sempre existiu, mas muitas vezes foi invisibilizada.
A exposição também propõe uma linha do tempo espacial. O visitante percorre uma espécie de trajeto de metrô imaginário que parte do Bronx, com referências às gangues dos anos 1970 nos EUA, passa pela fotografia de Martha Cooper, os filmes de Holman e Chalfant, o início do break no Brasil e chega até o epicentro da cultura Hip-Hop paulistana: a Estação São Bento.
Além disso, há um vagão educativo, que funciona como espaço de mediação cultural. É ali que se discutem os cinco pilares do Hip-Hop: DJ, MC, Breaking, Graffiti e Knowledge, conectando passado e presente, e reafirmando o Hip-Hop como cultura de resistência, arte urbana e projeto de futuro.

HIP-HOP 80’sp – São Paulo na Onda do Break
Onde: Sesc 24 de Maio – Rua 24 de Maio, 109 – República, São Paulo (SP)
Quando: De 24 de julho de 2025 a 29 de março de 2026
Quanto: Entrada gratuita | Classificação Livre
Curadoria: OSGEMEOS, Rooneyoyo O Guardião, KL Jay, Thaíde, Sharylaine, ALAM Beat e Rose MC