A produtora de cinema Zita Carvalhosa morreu nesta terça-feira (22), aos 64 anos. Ela tratava um câncer. O velório será realizado nesta quarta-feira (23), das 10h às 16h, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo.
Reconhecida como uma das maiores incentivadoras do curta-metragem no país, Zita fundou em 1990 o Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo — o Curta Kinoforum. Desde sua criação, o festival se consolidou como principal vitrine do formato no Brasil, recebendo milhares de inscrições nacionais e internacionais a cada edição.
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Zita Carvalhosa nasceu em fevereiro de 1960, em São Paulo, e formou-se em cinema pela Universidade Paris III, na França. Fundou em 1983 a produtora Superfilmes, voltada à produção independente, com ênfase em projetos autorais e dirigidos por mulheres.
Na Superfilmes, produziu longas como Anjos da Noite (1987), de Wilson Barros, e Carvão (2022), de Carolina Markowicz, além de curtas premiados de diretores como Cao Hamburger, José Roberto Torero, Eliane Caffé e Jefferson De. A produtora também esteve à frente da série documental O Povo Brasileiro, dirigida por Isa Ferraz e exibida pela TV Cultura, que recebeu o Grande Prêmio Cinema Brasil em 2001.
Entre 1988 e 1995, Zita foi curadora do Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS), onde desenvolveu uma política ativa de valorização dos curtas-metragens. Durante sua gestão, aproveitou o impulso da chamada Lei do Curta — que exigia a exibição de filmes nacionais de até 15 minutos antes das sessões comerciais — para ampliar o espaço do gênero nas salas de cinema.
Foi nesse contexto que surgiram obras como Ilha das Flores, de Jorge Furtado, e A Mulher do Atirador de Facas, de Nilson Villas Bôas. Zita classificava aquele momento como a “primavera dos curtas”, interrompida com o fim da Embrafilme no início dos anos 1990, durante o governo Collor.
Em 1995, fundou a Associação Cultural Kinoforum, voltada à ampliação do festival e à realização de oficinas de audiovisual em comunidades periféricas da Grande São Paulo. Ao longo dos anos, a curadoria do evento incluiu recortes dedicados a diretoras mulheres, realizadores negros e temáticas sociais urgentes.
Para Zita, o curta-metragem era um campo legítimo da criação artística, não apenas um trampolim para longas. Em entrevista ao programa Sala de Cinema, do SescTV, afirmou: “Às vezes as pessoas fazem um longa mediano que poderia ser um curta maravilhoso”.
Em julho de 2025, poucos dias antes de sua morte, Zita celebrava o número recorde de mais de três mil títulos inscritos para a 36ª edição do Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo, prevista para o mês de agosto.
Zita era irmã do artista plástico Carlito Carvalhosa, falecido em 2021. Sua atuação como produtora, curadora e gestora cultural é considerada fundamental para a consolidação do curta-metragem no audiovisual brasileiro contemporâneo.
A Spcine, empresa municipal de cinema de São Paulo, da qual Zita foi uma das idealizadoras e membro do comitê consultivo, destacou sua atuação crítica e generosa. O Ministério da Cultura lamentou publicamente sua morte, assim como dezenas de colegas e realizadores que iniciaram suas carreiras sob sua orientação.
A cineasta Carolina Markowicz, que estreou seu primeiro longa com produção de Zita, escreveu nas redes sociais: “Até hoje ouço internamente seus ensinamentos no meio das loucuras da vida do cinema. O cinema e todos nós sentiremos sua falta”.