Inerente à existência humana, o roubo permeia a história da humanidade, adaptado ao contexto de cada época e lugar. Com essa ideia em vista, o Cinema da USP Paulo Emilio (Cinusp) promove a mostra Roubarão Tudo!
Em cartaz desde o dia 21 passado até 10 de agosto, a mostra exibe 16 filmes de diferentes origens e gêneros, que têm temas relacionados ao roubo e a ladrões.
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As sessões são realizadas nas salas do Cinusp no Centro Cultural Camargo Guarnieri, na Cidade Universitária, e no Centro MariAntonia, em São Paulo. A entrada é grátis. A programação completa da mostra está disponível no site do Cinusp.

A intenção da mostra é apresentar a multiplicidade da forma como os diretores trabalharam o tema do roubo, em diferentes gêneros cinematográficos. “O conceito curatorial era trazer uma mostra que fosse polifônica ou entender o roubo como uma palavra polissêmica, que encapsula vários significados e várias formas de registro cinematográfico”, afirma Paulo Cipis, um dos curadores da mostra.
Cipis pontua que existe um diálogo entre o conteúdo dos filmes e a forma como eles são registrados. “Muitas analogias podem ser feitas entre o contexto histórico das produções e a representação dos ladrões, mas, ainda mais, entre a forma e o conteúdo”, diz.
O curador espera que alguns filmes mais populares, como Onze Homens e Um Segredo (2001) e O Plano Perfeito (2006), atraiam audiência. A expectativa com outros, como Pickpocket (O Batedor de Carteiras, 1959), Rififi (1955) e Nove Rainhas (2000), que, apesar de muito conceituados, são menos conhecidos, é apresentá-los ao público em geral.

“O tema da mostra pode servir como mote para as pessoas virem ao Cinusp e conhecerem esses filmes. Para mim, Thunderbolt and Lightfoot (O Último Golpe, 1974), por exemplo, é um dos melhores da lista e pouco conhecido”, completa. “É uma mostra muito divertida. A gente quer que as pessoas venham e se divirtam.”
O nome da mostra, Roubarão Tudo!, é também uma brincadeira interna dos curadores do Cinusp. Ele faz referência aos bem elaborados cartazes de divulgação das mostras do Cinusp, que, espalhados pela Cidade Universitária, acabam sendo tomados pelos estudantes para servir como peça de coleção.
Programação
Desde as representações mais realistas até as que beiram o absurdo, os filmes divergem nas abordagens escolhidas para apresentar as situações envolvidas no ato de roubar, como fica evidente em Roubarão Tudo!
Presente na mostra, O Grande Roubo do Trem, de 1903, é um dos mais antigos registros de roubo no cinema e um dos primeiros filmes com narrativa realista. A obra, pioneira do faroeste americano, apresenta padrões que estabeleceram as características do gênero.
Uma das formas mais populares em que o roubo aparece no cinema é o heist movie, subgênero do cinema criminal que foca no planejamento, execução e consequências de um grande crime, bem como as dinâmicas dentro dos grupos de criminosos, como divulgado pelo Cinusp, no texto de apresentação da mostra. Em Roubarão Tudo!, ele é bem representado por Rififi: “O filme inaugura essa forma de registro”, explica Paulo Cipis. “É um filme de 1955. Tem uma cena de 30 minutos que não tem nenhum diálogo nem música.”
Ainda sobre os destaques da programação, Cipis comenta o filme Bando à Parte (1964), do cineasta suíço Jean-Luc Godard. “Ele joga com os estereótipos do gênero, é um filme meio transgressor, meio satírico. Femme Fatale (2002), do De Palma, também é muito interessante.”
Profissão: Ladrão (1981) apresenta um arrombador de cofres profissional e as questões internas que surgem entre os membros de uma gangue. Já Onze Homens e Um Segredo é um remake do filme homônimo de 1960, conta com o planejamento de um roubo de grande escala a cassinos e pode ser classificado, também, como comédia.
A ótica humorística está presente ainda em Os Eternos Desconhecidos (1958). Os personagens atrapalhados conferem humor à narrativa, estratégia frequente na cinematografia de roubo. Em Thunderbolt and Lightfoot, os momentos cômicos são misturados com os de ação e criam uma atmosfera engraçada que quebra a tensão.
Com frequência, as narrativas exploram aspectos de relacionamentos fraternais ou amorosos. Em Shoplifters (2018), o foco está nos pequenos furtos de uma família, feitos em prol da sobrevivência, na periferia de Tóquio.
No Coração do Mundo (2019) se destaca por ser o único brasileiro da seleção e também conta com o aspecto social visto em Shoplifters. No filme, dirigido por Gabriel e Maurílio Martins, jovens moradores da periferia de Contagem, em Minas Gerais, sonham com uma vida melhor. As imagens documentais colocam a cidade em foco, como um personagem. Surge a ideia de assaltar uma mansão como caminho para uma vida melhor.

Em Pickpocket, Michel, o personagem principal, começa a furtar como um hobby, mas é preso quase imediatamente. Ele é atraído pela ideia de estar acima da lei. Depois de solto, consolida-se como um batedor de carteiras que, além do dinheiro, procura a adrenalina que o crime proporciona. Ele furta para se expressar e externalizar sentimentos.
Chuva de Luz na Montanha Vazia (1979) se passa em um templo budista, e os assaltantes tentam roubar um pergaminho. Em busca do manuscrito de valor inestimável, eles enfrentam conflitos.
Um Dia de Cão (1975) se diferencia dos demais por ser baseado em uma história real. John Wojtowicz tentou assaltar um banco, em Nova York, nos Estados Unidos, com o objetivo de reunir dinheiro para a cirurgia de transição de sexo da namorada. O assalto foi mal-sucedido e John é preso, mas acaba se tornando uma figura popular.
A sessão de Femme Fatale, prevista para o dia 5 de agosto, no Centro Cultural Camargo Guarnieri, contará com um debate com Wellington Sari, roteirista, diretor e pesquisador da obra do diretor estadunidense Brian De Palma.

Roubarão Tudo! – Mostra de filmes sobre roubos e ladrões
Onde: Cinusp Paulo Emílio – Centro Cultural Camargo Guarnieri (Rua do Anfiteatro, 109, Cidade Universitária, SP) e Centro MariAntonia (Rua Maria Antonia, 294, Vila Buarque, SP)
Quando: Até 10 de agosto de 2025
Quanto: Entrada gratuita