De 28 a 31 de agosto, o palco do Teatro da Reitoria, em Curitiba, volta a ser tomado pelo espírito irreverente, lírico e inquieto de Paulo Leminski. A nova temporada de Cabaré Haikai, peça inspirada na vida e obra do poeta curitibano, marca o retorno de um espetáculo que arrebatou o público no Festival de Curitiba de 2024 com sessões esgotadas. Agora, a montagem dirigida por Roddrigo Fôrnos oferece uma nova chance de mergulho na mente plural e nos aspectos menos óbvias do autor homenageado da Flip 2025.
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A dramaturgia, assinada por Fôrnos em parceria com Estrela Leminski e Eduardo Ramos, nasceu de um processo intenso de escuta, pesquisa e revelações. A partir de livros como Toda Poesia, Catatau, Gozo Fabuloso e Ensaios e Anseios Crípticos, a montagem vai além da imagem do “poeta marginal” consagrado. No palco, Ane Adade, Michele Bittencourt, Renata Bruel e Kauê Persona habitam não apenas os versos, mas as vísceras, os afetos, os ruídos e os silêncios de Leminski.

“Essa nova temporada é também uma oportunidade para quem ainda não viu a peça conhecer uma montagem que mostra o quanto sua obra continua viva e influente na cena cultural brasileira”, afirma o diretor. Para ele, Leminski desafiou a fronteira entre alta e baixa cultura, entre o erudito e o popular, acreditando numa arte viva, acessível e visceral. “Ele colocava a arte como parte da vida cotidiana. Era um sonhador com urgência de dizer algo sempre.”
Um dos pontos de partida da dramaturgia foi a participação de Estrela Leminski, filha do poeta, que compartilhou com elenco e direção aspectos íntimos do convívio familiar. “Ele compôs muito, foi gravado por Caetano e Ney Matogrosso. As músicas estavam sempre à mão, o violão ficava ali na sala”, lembra Estrela. “Ele fazia parte de um circuito de experimentação, mas também queria tocar o coração das pessoas.”
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O ator Kauê Persona resume a experiência de forma tocante: “A gente descobriu o CPF do Leminski, não só o CNPJ. Ele tinha inseguranças, sonhos. Aprendeu línguas para ser um poeta melhor.” A peça revela esse Leminski menos público e mais visceral — um homem de carne, osso, poesia e melodia.

A música, aliás, é presença constante. Além de pontuar cenas com arranjos sofisticados, o espetáculo se encerra com um miniconcerto, em que letras e melodias compõem uma camada sensorial poderosa. Como no trecho da célebre entrevista em que Leminski defende sua veia de compositor popular e ironiza o lugar da cultura paranaense: “O Paraná é um estado de vanguarda, pois deu ao Brasil o Catatau e Clara Crocodilo.”

A encenação mistura teatro, música e performance, com chão coberto por páginas de poemas, cortinas brancas e vozes múltiplas que ecoam como epigramas. Em uma das cenas mais marcantes, os atores, num porre poético, cruzam poemas, falas e pensamentos leminskianos, criando um caos harmônico que revela a natureza multifacetada do homenageado.
A peça, que estreou por ocasião dos 80 anos do poeta, retorna agora no ano em que ele é homenageado pela Festa Literária Internacional de Paraty, consolidando sua presença como figura central da cultura brasileira contemporânea. No palco do Teatro da Reitoria, o público encontrará Leminski em estado bruto, lírico, pop e humano.

Cabaré Haikai
Onde: Teatro da Reitoria (UFPR), Curitiba
Quando: 28 a 31 de agosto de 2025
Quanto: Ingressos à venda no site Compre no Zet