Durante uma das mesas mais interessantes da última Flip — encerrada no domingo (3), em Paraty —, o escritor Sérgio Rodrigues teve um inusitado encontro com sua própria escrita.

Ao lado do professor Rodrigo Tavares, da Nova School of Business and Economics de Lisboa, o autor assistiu, ao vivo, à leitura de um texto gerado por inteligência artificial que tentava emular o estilo de seu novo livro, Escrever é humano (Companhia das Letras).

A IA produziu algo razoavelmente fluente, com frases como:
“Num mundo em que algoritmos digerem montanhas de textos e regurgitam parágrafos sem espinhas, o papel do escritor talvez seja lembrar que a arte da língua reside justamente no desvio, no artifício humano. De que vale uma prosa que não tropeça no próprio rabo, que não saboreia a origem de uma palavra, que não se permite brincar com o risco de vida da expressão ‘risco de vida’?”

Nada mal — admitiu Rodrigues —, embora tenha considerado o texto “pedante”, “monocórdio” e, sobretudo, “assustador”. “Pode ser que algum dia a IA escreva um romance bom o bastante simulando Faulkner que nosso olhar de leitor não saiba distinguir”, disse.

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Se a Flip encerrou com provocações, o próximo capítulo desse debate se escreve em Curitiba. No dia 14 de agosto, às 19h, Sérgio Rodrigues estará na livraria Arte & Letra para lançar Escrever é humano, em conversa com o também escritor, tradutor e ensaísta Caetano W. Galindo.

No livro, o autor de A vida futura — obra em que usa Machado de Assis para discutir o Brasil — argumenta que a literatura é território dos vivos. A escrita, segundo ele, é um gesto irredutivelmente humano, que nasce da experiência, do corpo e da memória.

Com humor, leveza e erudição, Rodrigues não apenas reflete sobre o fazer literário em tempos de tecnologia acelerada, mas defende a criação de histórias como ato de resistência à pasteurização da linguagem.

“Precisamos aprender a negociar com a IA”, afirmou na Flip. “Até porque, se a gente não abrir o olho e não tomar muito cuidado, vai ser o maior trator já passado sobre a espécie humana em toda a história.”

Lançamento do livro Escrever é humano, com Sérgio Rodrigues


Onde: Livraria Arte & Letra (Alameda Presidente Taunay, 130 – Curitiba)
Quando: 14 de agosto de 2025 (quarta-feira), às 19h
Quanto: Entrada gratuita

 

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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