O documentário Lendo o Mundo, dirigido por Catherine Murphy e Iris de Oliveira, estreia nesta quinta (21) no Festival de Cinema de Gramado.
O longa integra a programação oficial da 52ª edição do evento, que acontece entre 13 e 24 de agosto, no Palácio dos Festivais, reunindo algumas das principais produções brasileiras e internacionais.
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A obra revisita os primeiros anos de atuação de Paulo Freire (1921-1997), educador e filósofo que se tornou referência mundial na pedagogia crítica.
No início dos anos 1960, Freire liderou um projeto experimental em Angicos, no Rio Grande do Norte, alfabetizando centenas de adultos em apenas 40 horas de aulas.

O feito teve impacto imediato: ao aprender a ler e escrever, trabalhadores rurais conquistaram também o direito de votar, até então negado aos analfabetos.
O golpe militar de 1964 interrompeu a experiência e levou Freire ao exílio por 16 anos. De fora do Brasil, ele se consolidou como um dos pensadores mais respeitados do século XX, com livros e práticas adotados em universidades e programas de educação popular ao redor do mundo.
Os círculos de cultura
O longa reconstrói a experiência dos chamados “Círculos de Cultura”, espaços em que alfabetização e pensamento crítico caminhavam lado a lado.
Em vez de repetir palavras prontas, os alunos eram estimulados a relacionar leitura e escrita com sua própria realidade.
Esse método fez história e tornou-se símbolo de um processo de conscientização que articulava educação, cidadania e direitos humanos.
“O método de Freire é mundialmente conhecido como de alfabetização de adultos, mas ele na verdade é muito mais do que isso”, afirma Catherine Murphy, uma das diretoras do longa. “É sobre alfabetização, mas também sobre direito a voto, direitos civis, direitos humanos, tudo o que ele definia como processo de conscientização. Nossa ideia foi justamente olhar para o nascimento desse projeto, que marcou o trabalho de Freire ao longo de toda a sua vida.
Para compor o filme, as diretoras reuniram depoimentos de antigos alunos e jovens educadores que participaram do projeto, além de imagens de arquivo coletadas em dezenas de acervos.

Foram dois anos de pesquisa até a descoberta de registros raros que ajudam a iluminar a atmosfera social e política do Nordeste no início dos anos 1960.
Contexto histórico e social
No período em que o projeto foi implementado, o Rio Grande do Norte registrava 70% de analfabetismo entre adultos.
A realidade refletia uma estrutura social marcada por heranças coloniais e pela exclusão política. Movimentos sociais e demandas por reformas agitavam a região, enquanto cresciam também as tensões que desembocariam no golpe militar.
“O filme é um projeto coletivo, fruto do trabalho de muitas mãos, que foram lapidando essas ideias ao longo dos anos”, afirma a diretora Iris de Oliveira. “É uma tentativa muito respeitosa de apresentar o legado do Paulo Freire a partir desses primórdios, os primeiros anos. E isso é uma responsabilidade muito grande, contar essa história, tanto para quem não o conhece como para quem já conhece.”
Música e memória
O filme também conta com uma trilha sonora composta por expoentes da cultura nordestina, como Chico César, Bia Ferreira, Cláudio Rabeca e Quinteto da Paraíba.
Para além de ilustrar, são canções que dialogam com a narrativa, auxiliando na construção daquela história sendo contada.
Lendo o Mundo
Onde: Festival de Cinema de Gramado – Palácio dos Festivais
Quando: 21 de agosto de 2025
Quanto: Programação oficial do festival