“A minha vida pode ser contada em edições do Festival de Curitiba”, conta Guta Stresser.

De fato, há muitos pontos de contato entre a atriz que o Brasil todo conheceu como a Bebel da Grande Família e um dos mais importantes festivais de artes cênicas do mundo, no qual Guta já fez de tudo um pouco. Inclusive foi a Mestre de Cerimônias da abertura do Festival em 2017.

Alguns meses antes de seu primeiro papel profissional no teatro, na montagem de O Vampiro e a Polaquinha, baseada em Dalton Trevisan e dirigida por Ademar Guerra, Guta trabalhou na primeira edição do então Festival de Teatro de Curitiba em 1992.

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“No primeiro Festival de Teatro eu era receptiva na festa de lançamento, que aconteceu no extinto Aeroanta. Foi um festão. Eu levava os convites caracterizada de fadinha do Sonho de uma Noite de Verão. Éramos eu, Fernanda Farah e Márcio Branco. A gente rodava no carro do Leandro [Knopfholz, fundador e diretor do festival] para cima e para baixo”, disse.

“Um dia, inclusive, o carro do Leandro pifou no meio da rua e tivemos que empurrá-lo: eu e a Fernanda de fadas, e o Márcio de Puck (personagem da peça de Shakespeare). Há controvérsias sobre o que aconteceu. O Leandro jura que estragou alguma coisa do motor. Na minha versão, ele não tinha abastecido naquele dia. Estava economizando, descendo na banguela. Mas, brincadeiras à parte, tudo isso faz parte da minha vida.”

Consagração na Ópera de Arame

Cinco anos depois, na edição de 1997, Guta já integrava o grupo Os Fodidos Privilegiados, liderado por Antônio Abujamra, e teve a sua grande consagração como atriz na Ópera de Arame, em Curitiba, com a peça O Casamento, de Nelson Rodrigues, dirigida por Antônio Abujamra e João Fonseca.

“A estreia nacional aconteceu em Curitiba e nunca havia sido apresentada no Rio antes. Foi uma catarse. Uma ovação, aplausos intermináveis, de vários minutos. A Ópera de Arame estava lotada. Nós estávamos inseguros, sem saber como o público curitibano receberia a peça, polêmica em muitos aspectos. Mas o resultado foi surpreendente: aclamação total da crítica e do público, sessões lotadas, sucesso.”

O sucesso abriu portas que levaram Guta para o Rio de Janeiro e para uma longa carreira na televisão, cinema e teatro nacionais. E esta peça já a trouxe de volta ao festival outras duas vezes.

“Voltamos para comemorar os 15 anos da peça, por ocasião do centenário de Nelson Rodrigues, e mais tarde, em 2022, para comemorar os 30 anos do Festival de Curitiba, com montagens icônicas que marcaram a história do evento”, lembra.

Neste meio tempo, esteve no Fest com O Auto da Compadecida e As Fúrias, sempre com Os Fodidos Privilegiados. Em outra participação, teve um papel em As Próximas Horas Serão Definitivas, com direção de Gilberto Gawronski e texto de Daniela Pereira.

Diversidade de papéis

Em 2014, esteve no Programa Guritiba, o braço de teatro e ações educativas voltadas para o público infantil do Festival. Ela participou da peça O Médico que Tinha Letra Bonita, de Pedro Brício, com músicas de André Paixão, que na época era seu companheiro e também protagonista.

“Essa montagem me trouxe enorme prazer, porque atuei, dirigi e colaborei em toda a concepção e criação. Dividi o palco com Vinícius Moreno, o flanelinha da série A Grande Família, que era o protagonista mirim da peça. Hoje, já um homem feito.”

Guta participou ainda da histórica maratona da Ilíada, na Cia Iliadahomero, dirigida por Octavio Camargo. Interpretou o Canto 9, em uma sequência na qual todos os cantos foram encenados por atores de Curitiba, no Memorial de Curitiba, no Largo da Ordem.

Em 2024, esteve na Mostra Fringe, com a peça Os Analfabetos, direção de Adriano Peterman e texto de Paula Gorja, e elenco de atores curitibanos. A peça foi apresentada no Miniguaíra, teatro que, aliás, marcou sua estreia em Curitiba, ainda no teatro amador.

Linha do tempo – Guta Stresser no Festival

  • 1997 – O Casamento
    1º espetáculo do grupo Fodidos e Privilegiados.
    Vencedor do Prêmio Shell de melhor direção para Antônio Abujamra e João Fonseca.

  • 2011 – As próximas horas serão definitivas
    2012 – O Casamento
    2014 – O médico que tinha letra bonita

  • 2016 – Ilíada de Homero – Canto 9

    2017 – Mestre de Cerimônias na abertura do Festival

  • 2019 – Abujamra Presente

    2022 – O Casamento
    2024 – Os Analfabetos – Fringe

Para Guta, o Festival de Curitiba tem uma característica muito singular: faz com que a comunidade do teatro possa se encontrar e conviver.

“Todo mundo que conheço, do Brasil inteiro, volta encantado do Festival de Curitiba. Ficamos no mesmo hotel, nos encontramos, conseguimos assistir às peças dos colegas — o que é raro —, e há muitos debates, mesas, entrevistas coletivas. É uma sensação de pertencimento, de turma, de respeito e convivência.”

Ela conta que, depois que voltou a morar em Curitiba, no final da década passada, consegue entender as faces do festival: o de estar na cidade que o recebe e o de já ter chegado como integrante de uma trupe.

“Sempre com orgulho de dizer: olha que festival, olha que mensagem! É um acontecimento consolidado no calendário mundial de grandes festivais de teatro e também uma super vitrine: qualquer peça que passa por aqui já sai carimbada de qualidade”, disse.

“É bom para a cidade, para os teatros, para as ruas ocupadas, para nós que vivemos do teatro e do audiovisual. Eu tenho muito orgulho de ser ‘arroz de fest”, se diverte Guta, pedindo desculpa para consertar o sotaque carioca e dizer agora em curitibanês castiço: “Arox de festE”.

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Sandro Moser é jornalista e escritor.

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Fringe é uma plataforma de comunicação e entretenimento sobre arte e cultura brasileiras criada dentro do Festival de Curitiba e conta com o patrocínio da Petrobras

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