Nas plataformas digitais desde o dia 21 de agosto, Língua Solta, disco de estreia da curitibana Bruna Pena, é o típico lançamento que apresenta um artista da melhor forma possível: soma composições criativas, ótimos arranjos e uma produção primorosa, o que imprime personalidade já nos primeiros segundos do álbum. Aliado a isso, Bruna ainda possui uma voz limpa, afinada e com uma assinatura própria, algo não tão fácil de se encontrar na cena, especialmente nos dias de hoje.
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Além disso, Língua Solta é conceitual e dividido em três atos narrativos: Mergulho, Colapso e Travessia, Bruna descreve o disco como um manifesto criativo, nascido do atrito entre o que ela é e o que esperam que ela seja.
“Disseram que coragem é coisa de quem vai com medo, fazer esse álbum foi isso. Me olhar no espelho e me reconhecer, no que era meu e no que era do outro, do meu contexto. Entender que medos (e esse mundo bota um tanto de medo na gente!) ainda me imobilizavam de fazer as coisas que eu amo. E fazer, cantar, amar, mesmo que ainda com medo, até que o movimento voltasse a ser natural. Até que não existisse mais medo (ou só uma parte mais saudável)”, compartilha.
O disco, que é essencialmente pop alternativo, percorre gêneros como trip hop, dub, reggae e eletrônica experimental, acompanhando a jornada emocional e política de Bruna. “Língua Solta” nasceu de um processo íntimo, iniciado em 2022 na casa do produtor Henrique Gela, e gravado em diferentes espaços – como a Dorsal Lab (SP), Arnica Cultural e estúdios de Gui Miúdo e Jaboticasa, em Curitiba. Parte das faixas surgiu a partir das poesias de Bruna musicadas por Henrique; outras nasceram das harmonias dele, que Bruna completou com letra e melodia.
O álbum reflete o atrito entre o interior da artista e o mundo, abordando não só medos pessoais, mas também questões sociais como a violência contra mulheres e os efeitos da cultura neoliberal – como a escassez de oportunidades, os padrões estéticos impostos pela mídia e a precarização da vida.
Com ótimas colaborações, como a foto de capa de Carol Castanho e design gráfico de Gustavo Rocha, Língua Solta ainda conta com Denusa Castellain no saxofone e Lucas Ramos no trompete nas faixas “duelo”, “feelings” e “lovin’ It”; a produção e participação do produtor Lemoskine em “car wash”; Lio, da banda Tuyo, colabora em “laya”, também dirigindo os vocais da faixa; Erica Silva produziu “destrambelhada” que contou com participações de Rubia Divino, Klüber, Uyara Torrente, Maya e Noe Carvalho, além do sax de Audryn, integrante da Bananeira Brass Band e Jean Machado, também da banda Tuyo, criou as linhas de baixo para “lighter”, “try” e “ghost”.
Com faixas que vão da confessional de “try” ao sarcasmo pop de “lovin’ It”, passando pela feitiçaria verbal de “língua solta” até o groove solar de “Lighter”, o álbum revela camadas profundas do processo de auto expressão da artista.
Há também uma forte presença do imaginário gastronômico no disco, que atua como metáfora política e afetiva – da crítica à cultura do fast-food emocional à travessa vazia do banquete dos medos. Nesse contexto, “pa vê” surge como uma faixa leve e dançante que esconde uma reflexão densa sobre desejo, afeto e tempo. Ouça.