Desde 1996, quando surgiu o 1º Seminário Nacional de Lésbicas (Senale), realizado no Rio de Janeiro em 29 de agosto, o oitavo mês do ano é dedicado a debates sobre a visibilidade lésbica em todo o país e, obviamente, o meio artístico também é parte da discussão.
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Mesmo dentro da sigla LGBTQIAPN+, o preconceito, e, por muitas vezes, a misoginia é parte presente do movimento, o que torna o ato de “sair do armário” muito mais difícil para as mulheres do que para os homens, por exemplo, já que mesmo que sejam gays, os homens são muito mais ouvidos na sociedade. Isso sem contar a fetichização em torno de duas mulheres juntas, o que gera repulsa e até medo.
Entretanto, de décadas para cá, a discussão em torno da lesbianidade vem ganhando a mídia e especialmente os meios artísticos de forma mais clara e aceita, o que fez com que muitas mulheres do meio se sentissem mais confortáveis em assumir quem são. Algumas delas foram pioneiras no ato já nas décadas de 70 e 80 e enfrentaram muito mais preconceito do que as garotas de hoje em dia. Veja:
Ângela Ro Ro, a “lésbica diamante”
Os anos 70, embora parecessem um período libertário, ainda era marcado pelo momento histórico ditatorial e cheio de censura. E mesmo que figuras importantes surgissem e dessem espaço à cultura LGBT, se assumir lésbica ainda era revolucionário. Angela Ro Ro foi uma das primeiras mulheres a levantar a bandeira da causa.

Leci Brandão
Porém, a primeira cantora famosa e que fazia parte dos lares brasileiros a assumir a sua sexualidade foi a sambista Leci Brandão, que se tornou um ícone na luta pela causa.
Marina Lima
Já nos anos 80, Marina Lima assumiu o posto e se tornou o símbolo LGBT da época, sendo uma figura importante na sigla até hoje,
Os anos 90 e as novas gerações
Cássia Eller, Ana Carolina, Ellen DeGeneres, Maria Gadu, Bruna Linzmeyer, Daniela Mercury…
Dos anos 90 onde “tudo era possível” até hoje, as gerações de artistas lésbicas vem se revelando com mais segurança e afirmando que não é um caminho a se trilhar sozinha. Ve-las na TV e na música, gera a visibilidade que sempre foi uma das maiores causas no meio e, de certa forma, apoia garotas e mulheres a se reconectarem com a sua própria sexualidade. Hoje é possível constituir uma família como Ludmilla e Brunna ou Nanda Costa e Lahn Lahn sem ser silenciada pela sociedade. Também é muito mais aceito escrever relações de amor com outras meninas, como Billie Eilish e Chappel Roan. Um armário sem trancas nem chave, apenas com uma porta entreaberta para quem quiser explorar e ser quem é.

Minhas influências quando me assumi lésbica: por Judy
No fim dos anos 90 e início do novo milênio, me entendi sapatão e, naquela época, assumir a sexualidade ainda exigia muita coragem.
Cássia Eller tinha um acústico MTV de sucesso e aos poucos assumia a sua família com Maria Eugênia e o filho Chico.
Na TV, um clássico do horário das 21h da Globo de Manoel Carlos, Mulheres Apaixonadas, retratava pela primeira vez um casal lésbico que era aceito por uma grande parcela do público. Clara (Aline Morais) e Rafaela (Paula Picarelli) foram um estímulo não só para mim, mas com certeza para várias outras meninas, já que uma linda relação era mostrada sem tabus para o Brasil todo.

O seriado The L Word, que abordava relacionamentos amorosos sem receios, foi também uma grande influência de quem viveu o início dos anos 2000.
Embora não fossem tantos os exemplos da época, me sentir visível para uma sociedade e enquadrar a minha sexualidade em uma sigla foi de extrema importância. Que a arte continue contribuindo!