Por Gabriel Costa, especial para o Fringe
Quando leu pela primeira vez o roteiro de ‘O Último Azul’ a atriz Denise Weinberg conta que se sentiu convocada para uma missão. “Eu fiquei louca quando recebi [o roteiro], sabia que tinha que fazer”, disse.
No último sábado, dia 30 de agosto, a atriz esteve no Cine Passeio, em Curitiba, para uma sessão especial do filme com a presença do diretor Gabriel Mascaro.
O filme, vencedor do prêmio Urso de Prata, no Festival de Berlin, acaba de ser lançado no cinema, com salas cheias e recepção entusiasmada da crítica nacional e internacional.
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No bate-papo após a sessão, Denise de declarou um “defensora de uma velhice natural” e ressaltou: “Eu sou idosa, queira ou não, e não tenho vergonha disso. Nunca fiz nenhum procedimento estético, quero envelhecer e morrer naturalmente.”
Isto porque o tema da velhice é um dos assuntos abordados pelo longa e um dos tópicos do bate-papo, marcado pelo bom-humor dos convidados e reflexões atuais sobre temas policos, espirituais e cinematográficos.

O filme, descrita como uma distopia brasileira com traços de fábula e lirismo, parte de memórias pessoais do diretor, como a da avó, e de questões históricas e políticas do país.
O diferencial está em colocar o corpo idoso feminino como protagonista, algo raro no cinema, normalmente associado apenas à morte ou à nostalgia.
“Eu comecei a perceber na pesquisa como era raro na cinematografia do mundo protagonistas idosos. Muitas vezes, seus papéis são sobre a iminência da morte, sobre ir embora. Eu quis falar desse corpo em desejo, em pulsão, no presente.”
O impacto no exterior confirmou o alcance emocional da obra. Para Mascaro, exibir o filme em Berlim foi revelador:
“Berlim é diferente, é o único dos grandes festivais que acontece numa metrópole. A sessão tinha duas mil pessoas, é um termômetro real. Foi muito bonito ver o filme se conectando com gente de todo lugar.”
As filmagens exigiram esforço intenso na floresta amazônica, mas renderam experiências e memórias especiais para o elenco. Weinberg lembrou:
“Era uma batalha diária, seis dias por semana, das cinco da manhã às cinco da tarde, calor, mosquitos, barco. Foi uma experiência que jamais vou esquecer”, disse a atriz ressaltando o espeito coletivo do set. “Eu gosto dessa parceria, desse troca-troca. Jamais seria atriz se tivesse que fazer carreira solo.”
Com distribuição garantida para 65 países, O Último Azul mostra como o cinema brasileiro pode falar de si mesmo e, ao mesmo tempo, ecoar nos pensamentos de pessoas dos mais diferentes cantos do mundo.