“O Boi, que tu comeu, virou zumbi vai te assombrar… liberta o boi, free boi.”
A canetada de Raissa Fayet, ainda em 2019, com o single free boi – em alusão ao famoso frigorífico – já dava indícios do que a curitibana seria capaz de apresentar. Não é preciso ser vegano ou ativista para admirar a capacidade da artista em misturar ideologias e ritmos de forma singular.
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Em 2017, a artista lançou São Jorge, parte do disco de estreia Rá. Nos versos, declara: “batucada, de negro índio branco orixá (…) save the world the time is now…”. O remix da faixa, produzido por Deeplick & Dazzo, trouxe uma essência próxima à de Vanessa da Mata, mas com densidade poética própria.
Desde então, Raissa vem experimentando estilos que se tornaram cada vez mais evidentes em sua obra. Suas influências passam por tradições indígenas, culturas sul-asiáticas, caiçaras, amazonenses, nordestinas, afro-diaspóricas, ibéricas e do Oriente Médio. Ingredientes que poderiam parecer incompatíveis na mesma receita, mas que, em suas mãos, resultam em um trabalho coeso e inovador.
Colaborações e parcerias
A trajetória da artista é marcada por colaborações com nomes de peso. Entre elas, Russo Passapusso, do Baiana System, em Tiempo e Capim, e Maria Gadú em Derrubar o Sistema. Também colaboraram Ju Strassacapa, Cacau de Sá, Fitti, Helena de Los Andes, Juliana Linhares, Renata Rosa, Jéssica Caitano, Luana Flores, Rúbia Divino e Alana Dedálos, todas essas últimas presentes no álbum Raízes, seu lançamento mais recente.
Raízes: manifesto cultural
O disco Raízes trouxe destaque para singles como Derrubar o Cistema – com participações de Francisco el Hombre e Rita Von Hunty – e Floresta. Ambos exemplificam a potência criativa do trabalho. O álbum é um manifesto, reunindo elementos culturais e etnográficos, além de trechos da liderança indígena Célia Xakriabá e da poesia guarani de Myrian Krexu, eternizada por Maria Bethânia.
Uma artista pronta para voar
Ativista LGBTQIAPN+, diretora artística e musical, Raissa Fayet apresenta uma capacidade rara de renovar constantemente suas fórmulas sonoras. Diferente de muitos artistas que recorrem a repetições quando pautam suas ideologias, a curitibana demonstra talento nato e autenticidade. Uma artista pronta para voar, capaz de unir poesia, ancestralidade e ritmos em uma obra única.