Morreu na manhã desta sexta-feira (5), no Rio de Janeiro, o cineasta Silvio Tendler, vítima de uma infecção generalizada, aos 75 anos. Ele enfrentava havia uma década uma neuropatia diabética, doença que afeta o sistema nervoso.

A morte foi confirmada por sua filha, Ana Rosa Tendler. Conhecido como o “cineasta dos sonhos interrompidos”, Tendler dedicou sua carreira a iluminar episódios marcantes da história política brasileira e a dar voz às causas sociais.

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Sua trajetória de cineasta se confunde com a própria luta democrática do país. Com “Jango” (1980), que retrata a deposição do presidente João Goulart, Tendler alcançou um público inédito para o gênero: mais de 1 milhão de espectadores.

O documentário se tornou um marco por recuperar, ainda no início da redemocratização, a memória de um projeto político interrompido pelo golpe militar de 1964.

Ao lado de “Os Anos JK – Uma Trajetória Política” (1980) e “Tancredo, A Travessia” (2011), o filme compôs a chamada “Trilogia Presidencial”, que se tornou referência na narrativa audiovisual da política nacional.

O cineasta dos vencidos

Nascido no Rio de Janeiro, em 1950, Tendler ingressou no cinema no final da década de 1960. Perseguido pela ditadura, exilou-se no Chile e, depois, na França, onde estudou história e cinema.

De volta ao Brasil, fundou em 1976 a Caliban Produções, responsável por mais de 80 títulos entre longas e curtas. O selo consolidou-se como um dos principais do cinema documental, quase sempre voltado à reconstrução crítica da memória política brasileira e latino-americana.

Além da Trilogia, Tendler construiu uma filmografia extensa que transitou entre o registro histórico e a denúncia social. Filmes como “Utopia e Barbárie” (2009), fruto de 20 anos de trabalho, revisitam a segunda metade do século 20 a partir de imagens de arquivo e reflexões de intelectuais como Augusto Boal, Eduardo Galeano e Susan Sontag.

Já em “Dedo na Ferida” (2017), o cineasta voltou seu olhar para as desigualdades contemporâneas e para os efeitos da financeirização da economia sobre a vida social.

Entre a política e a cultura

Nos anos 1990, Tendler ampliou sua atuação para além das telas. Foi Secretário de Cultura e Esporte do Distrito Federal e trabalhou em articulações internacionais ligadas ao audiovisual junto à Unesco e ao Mercosul.

Em 1985, participou da criação da Fundação do Novo Cinema Latino-Americano, em Havana, ao lado de Gabriel García Márquez e Fernando Birri.

Sua ligação com a política também se traduziu em reconhecimento oficial. Em 2006, recebeu a Ordem Rio Branco, concedida pelo presidente Lula.

Mais recentemente, em maio de 2025, foi novamente homenageado pelo governo federal com a Ordem do Mérito Cultural. Ao longo da carreira, acumulou mais de 60 prêmios em festivais no Brasil e no exterior, sempre reafirmando sua posição como cronista audiovisual dos processos históricos e sociais.

Recordes de público

Embora sua obra mais importante tenha sido marcada pelo rigor político, Tendler também alcançou recordes de bilheteria.

Além de “Jango”, dois dos documentários mais vistos da história do cinema brasileiro são seus: “O Mundo Mágico dos Trapalhões” (1981), com 1,3 milhão de espectadores, e “Os Anos JK”, com 800 mil.

O feito lhe garantiu um lugar singular: foi o documentarista brasileiro de maior público de todos os tempos.

 Tendler deixa a mulher, Fabiana Versasi, e a filha, Ana Rosa Tendler.

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