Ro Ro. Um apelido que vinha da infância por causa de sua voz rouca. Além disso, também podemos definir Ro Ro como sinônimo de intensidade, coragem e talento.

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Ro Ro, também conhecida como Ângela, havia sido faxineira, garçonete e lavadora de pratos ao mesmo tempo que se apresentava em pubs londrinos em um período fora do Brasil. Uma trajetória plantada desde os seus 5 anos, quando começou a estudar piano clássico. Décadas mais tarde, depois de conhecer Glauber Rocha – que foi um grande incentivador da sua carreira – participou do monumental álbum Transa, de Caetano Veloso, tocando gaita em uma música.

Em sua essência, o samba, bolero, blues e MPB davam o tom de quem ela era. Foi assim que surgiu Amor Meu Grande Amor, grande sucesso de sua história que falava do amor do ponto de vista das mulheres. A canção foi regravada anos mais tarde por Frejat. No pacote, incluem-se também Ney Matogrosso interpretando “Balada da Arrasada” e Maria Bethânia, que gravou “Fogueira”.

A primeira artista a falar sobre sua homossexualidade no Brasil

Pioneira. Foi ainda lá na década de 70 que Ângela abriu para o mundo a sua orientação sexual. A partir daí foi chamada de “lésbica diamante”. Inquebrável, brilhante e cheia de atitude, a artista não tinha medo de ser quem era, abrindo assim ainda mais espaço para que outras mulheres fizessem o mesmo. 

“E acho que, de uma certa forma, eu continuo sendo (a única cantora lésbica da MPB). Lésbica diamante, invicta. E fui quem inaugurou isso, a beijos e tapas. Desde a primeira entrevista, eu abri a boca e falei. Perguntaram se eu era bissexual e eu disse que só tinha uma genitália”, começou ela em entrevista ao Globo em 2019.

Nunca tive caso com homem, acredite se quiser. Acho que sou lésbica diamante, mereço fila de prioridade. Eu fiz isso há 40 anos, levei um pouquinho na cara, mas acho que valeu a pena ser corajosa. E estou achando muito boa essa liberdade de hoje, as pessoas saindo do armário, acho isso muito sadio”, continuou.

Intensidade e renovação

Até o fim da década de 80, a artista colecionava suas grandes obras ao mesmo tempo que se entregava aos vícios de tabaco, álcool e drogas. Já nos anos 90, optou por uma vida mais saudável ao largar todos eles. Os excessos anteriores, entretanto, podem ter sido o início da fraqueza de seus pulmões, que ocasionou a infecção pulmonar grave, que levou Ângela deste plano na manhã desta segunda-feira.

Último Trabalho

Selvagem, lançado em 2017, foi o último disco autoral de Ângela, um compilado de 11 faixas embebidas em amor, intenso e verdadeiro. Nada tão diferente de todas as Ângelas anteriores que trazia um pouco da sofrência característica de Maysa (1936 – 1977) mas com um estilo próprio e indomável.

Divulgação

Indomável?

Sim… assim ela era em toda a sua discografia, do homônimo de 1979 até Selvagem. Indomável nas letras, na performance, na atitude e nas suas escolhas. Assim ela viveu desde o início. Assim ela se foi.  Sem muito alarde mas deixando rastros. 

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Jornalista, DJ e especialista em música brasileira

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