Como existem aqueles restaurantes que os chefs frequentam, existem as grandes bandas que têm como fãs os grandes músicos. O Azymuth é uma delas. O grupo inventou um som que atravessou décadas, misturando samba, jazz e funk de um jeito ousado e único que conquistou o mundo e influenciou até gigantes da música eletrônica e do hip-hop.
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Na estrada desde 1975, o Azymuth é conhecido por sua fusão inovadora de ritmos brasileiros e improvisações jazzísticas. O trio, que carrega na bagagem mais de 50 anos de história, está de volta à estrada com a turnê do recém-lançado álbum Marca Passo. Curitiba está na agenda do grupo, que desembarca na cidade no dia 27 de setembro, em apresentação produzida pela Barleria.
Um som inimitável
O Azymuth nasceu da parceria entre Alex Malheiros (contrabaixo), Ivan Conti “Mamão” (bateria) e José Roberto Bertrami (teclados). O trio, inicialmente reconhecido como músicos de estúdio, acompanhou nomes como Elis Regina, Rita Lee, Raul Seixas e Tim Maia antes de assumir identidade própria. O batismo veio em 1973, quando gravaram a trilha de O Fabuloso Fittipaldi, filme de Hector Babenco e Roberto Farias. A canção “Azimuth”, de Marcos Valle e Novelli, foi incorporada como título do grupo, com aval de Roberto Menescal.
Dois anos depois, o álbum Azimüth, lançado pela Som Livre, abriu portas. Faixas como “Linha do Horizonte” e “Manhã” se tornaram hinos radiofônicos e chegaram ao público pela trilha da novela Cuca Legal. Esse início explosivo projetou o trio como símbolo de inovação na música instrumental brasileira.
A invenção do “samba doido”
Misturando groove da black music americana, sofisticação harmônica do jazz e balanço da música brasileira, o Azymuth criou o chamado samba doido. Foi essa assinatura que embalou sucessos como “Outubro”, “Melô da Cuíca” e “Voo Sobre o Horizonte”.
Nos anos seguintes, o trio gravou com Clara Nunes, Belchior, Hyldon e João Nogueira. Em 1977, lançaram Águia Não Come Mosca, enquanto músicas suas ecoavam em novelas da Globo. O reconhecimento internacional viria logo depois, quando o grupo foi convidado para o Festival de Jazz de Montreux.
Conquista internacional
A participação em Montreux abriu caminho para uma turnê pelos Estados Unidos ao lado de Airto Moreira e Flora Purim. Em 1979, o contrato com a Milestone Records, selo de jazz da Fantasy Records, levou ao disco Light as a Feather. O compacto de “Jazz Carnival” alcançou a 19ª posição nas paradas britânicas em 1980 e vendeu mais de 250 mil cópias na Europa.
A década seguinte consolidou o trio como referência global. Gravaram álbuns solos, exploraram novas fusões e mantiveram presença constante em turnês internacionais. Com o fim do contrato com a Milestone e a saída de Bertrami, seguiram reinventando a formação sem abandonar a essência.
Nos anos 1990, o Azymuth foi redescoberto pelo movimento acid jazz. Grupos como Jamiroquai e Incognito reverenciavam o som brasileiro. A gravadora londrina Far Out Recordings, de Joe Davis, assinou com a banda, abrindo uma nova fase criativa. Álbuns como Carnival e Partido Novo reacenderam o interesse europeu, agora embalado por remixes de DJs como Jazzanova, Theo Parrish e 4 Hero.
História em movimento
Com a morte de Bertrami em 2012 e, mais recentemente, de Ivan Conti em 2023, o grupo soube se renovar. Hoje, o trio é formado por Alex Malheiros, Kiko Continentino (teclados) e Renato Massa (bateria). A herança musical de Mamão é celebrada em Marca Passo, que traz a faixa “Samba Pro Mamão”.
O disco também revisita “Last Summer in Rio” e reafirma a vitalidade criativa da banda. Produzido por Daniel Maunick, o álbum conecta tradição e futuro, provando que a linguagem inventada pelo Azymuth permanece relevante.
Para Alex Malheiros, único integrante fundador ainda em atividade, a trajetória é motivo de orgulho: “É um grande privilégio carregar essa bandeira chamada Azymuth. Vivemos momentos históricos e seguimos tocando para novas gerações de fãs em todo o mundo”.
Azymuth – Show de lançamento do álbum Marca Passo
Onde: Rua Matheus Leme, 1719 – São Francisco, Curitiba (PR)
Quando: 27 de setembro de 2025, das 17h às 02h
Quanto: ingressos disponíveis na plataforma Meaple